Tendo dito isso sobre o batismo nas águas, necessário será agora discorrermos brevemente sobre o assunto do batismo no Espírito. Não irei me alongar neste tema, não irei entrar em complicadas discussões teológicas sobre isso e nem irei advogar alguma posição e defendê-la exegeticamente, até porque este é um livro sobre o pecado, e não um tratado sobre o batismo com o Espírito Santo.
Existem ótimos livros sobre o batismo com o Espírito Santo que você pode adquirir. Aqui, porém, a minha análise sobre o batismo no Espírito será puramente naquilo que tange acomo usar o dom de línguas para vencer o pecado. Portanto, nada de discussões teológicas por enquanto.
Se algum irmão pensa diferente quanto ao dom de línguas ou sobre o batismo no Espírito, eu respeito a sua opinião e também faço questão de deixar claro que crer ou não crer na atualidade da manifestação deste dom não é um assunto determinante para mandar um crente para o inferno ou para fazer com que tal convertido não possa viver uma vida de santidade.
Jesus Cristo não tinha o dom de línguas porque nenhum lugar da Bíblia mostra isso e o dom foi pela primeira vez manifestado no Pentecoste, depois da morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Mesmo assim, isso não impediu o Nosso Senhor de viver uma vida justa, íntegra, santa e irrepreensível na presença de Deus, todos os dias de sua vida na terra.
Da mesma forma, os profetas do Antigo Testamento não oravam em línguas estranhas e mesmo assim isso não os impediu de viverem de acordo com a Palavra de Deus. Nomes como Elias, Davi, Eliseu, Neemias, Esdras, Daniel, João Batista (que morreu antes do Pentecoste), Enoque, Moisés, Josué, Josafá, Josias, Isaías, Ezequiel e tantos outros grandes nomes do passado, que poderíamos ficar aqui durante horas mencionando cada um, não tinham o dom de línguas e mesmo assim viveram com Deus de maneira santa e honrosa, muito mais do que a grande maioria vive nos dias de hoje, mesmo com todo o derramar do Espírito que vemos nestes últimos dias.
Cabe também lembrar aqui que muitos Pais da Igreja primitiva e Pais Reformadores também não tinham o dom de línguas. Não há nenhuma menção de que Lutero, Calvino, Zwínglio ou algum outro falasse em línguas. Mesmo assim, ninguém em sã consciência discute o papel importantíssimo e fundamental que eles tiveram no restabelecimento da fé cristã em plena idade das trevas.
Também deve-se ressaltar que muitos nomes que marcaram o mundo e ressoaram por toda a cristandade, como o de Moody, Finney, Spurgeon, John Wesley e tantos outros, também não passaram pela época do grande despertar e manifestação das línguas e mesmo assim isso não os impediu de alcançarem um enorme número de perdidos e de viverem de acordo com a fé cristã.
Por fim, devemos também lembrar que muitas pessoas que nos dias de hoje tem o dom de línguas e são batizadas com o Espírito Santo não vivem uma vida santa, não buscam a Deus, não oram, não se preocupam com o próximo e alguns até afastados da fé já estão.
Portanto, eu não estou em condição de julgar quem fala e quem não fala em línguas como se o fato de falar significasse ser mais santo e o fato de não falar significasse que alguém é ímpio, pecador ou que não tem o Espírito Santo, como pregam alguns desconhecedores da Bíblia e da História.
Tendo dito isso, quero expor o meu ponto de vista sobre o tema sem ofender aqueles que pensam diferente de mim. Como eu disse, não quero fazer juízo de valores, mas expor como que aqueles que falam em línguas podem usar este dom de forma prática para combaterem o mal e vencê-lo em suas vidas.
A verdade é que muitos possuem uma Ferrari e não sabem. Deixam-na guardada na garagem e não desfrutam dela. Muitos têm a preciosidade que é terem o dom das línguas, mas não fazem uso delas, a não ser na hora do culto ou nem isso. Tais pessoas estão jogando fora e simplesmente desprezando o dom que receberam de Deus. Paulo corretamente disse a Timóteo:
“Não negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética com imposição de mãos dos presbíteros” (1 Timóteo 4:12)
A palavra “negligencie” aqui traduzida pela NVI é traduzida pela Almeida Corrigida, Revisada e Fiel por “não despreze”. Essa palavra vem do grego “ameleo”, que significa:“ser descuidado, negligenciar” (Concordância de Strong, 272). Não devemos ser descuidados, negligenciando ou desprezando (ignorando) o dom de que recebemos da parte de Deus.
Se Ele nos deu o dom de línguas, não foi para que nós o deixássemos de lado, estacionado em alguma garagem, mas sim para que usássemos e tirássemos proveito disso, pois absolutamente nada daquilo que Deus nos concede é à toa. O apóstolo Paulo também explica que aquele que ora em línguas edifica-se a si mesmo:
“Quem fala em língua a si mesmo se edifica” (1 Coríntios 14:4)
Edificar é uma palavra geralmente associada a alguma construção. Quem constrói alguma coisa, começa por baixo, pelos alicerces, nunca começa pelo teto da casa! A Palavra de Deus é clara em afirmar que aquele que pratica o dom de línguas (aquele queora em línguas, e não meramente o que tem o dom!) está edificando a si mesmo. Já vimos que biblicamente nós somos como uma casa. O autor de Hebreus escreveu:
“Mas Cristo é fiel como Filho sobre a casa de Deus; e esta casa somos nós, se é que nos apegamos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos” (Hebreus 3:6)
Se nós somos como uma casa, e ao orarmos em línguas estamos edificando essa casa, isso significa que estamos construindo alguma coisa dentro de nós mesmos. O que é que Deus irá querer “construir” em nós? A resposta para isso está na segunda epístola de Pedro e nos nove frutos do Espírito que Paulo menciona aos gálatas:
“Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em suas vidas, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos” (2 Pedro 1:5-8)
“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei” (Gálatas 5:22-23)
Só nestas duas passagens nós já vimos quatorze coisas que Deus quer construir em nós (algumas delas se repetem em ambas as passagens). Tudo isso são frutos do Espírito, e Pedro afirma que Deus quer ver essas coisas existindo e crescendo dentro de nós. Edificar é exatamente isso: construir algo que passa a existência e cresce!
Como toda e qualquer edificação começa, o Espírito Santo vai começar do mesmo jeito: pelos alicerces. Todas essas características que devem fazer parte da vida de um cristão não vão surgir do dia pra noite e de uma vez só na vida de alguém. Ele vai ter que começar tirando tudo aquilo que desagrada a Deus, assim como um construtor começa “limpando o terreno”, aplainando o solo e somente então começa a estabelecer os alicerces da casa.
Por isso, a primeira coisa que Deus irá fazer crescer em nossa vida é nos limpar de todas as nossas impurezas. Ele vai fazer com que todos os vícios sejam deixados de fora, que tudo aquilo que é torto em nossa vida passe a ser endireitado, e que todo o solo pedregoso seja eliminado para dar lugar a um solo aplainado, pronto para servir de base a uma grande edificação. Isso não vai acontecer por si mesmo, pois a Bíblia diz que“o que é torto não pode ser endireitado” (Ec.1:15).
Portanto, será somente pelas forças de Deus, o Todo-Poderoso, que iremos ver este verdadeiro milagre acontecendo em nossas vidas: a nossa própria transformação! O fato aqui que deve ser ressaltado é que a primeira coisa que Deus “edifica” em nossas vidas é a limpeza daquilo que está impuro. A purificação, que é uma vida em santidade, é a primeira coisa que Ele quer estabelecer para depois fazer nascer os frutos da justiça.
Nenhum solo infrutífero consegue gerar frutos; apenas as sementes plantadas numa terra fértil podem conseguir isso. Temos que limpar o nosso coração de todas as nossas impurezas, vícios e pecados, para sermos um terreno limpo e um solo fértil, para, então, podermos gerar os frutos que o Espírito Santo deseja gerar em nós.
Essa é a primeira coisa que Ele gera em nossas vidas, e que o apóstolo Paulo afirma que a prática da oração em línguas ajuda a edificar: a santidade! Depois que você já se livrou das impurezas e se encontra puro, um solo fértil, um terreno aplainado, então Deus irá fazer crescer os frutos do Espírito, um por um. A casa irá começar a tomar forma e tijolo por tijolo será colocado.
Os frutos do Espírito, tais como o domínio próprio, o amor, a mansidão, a bondade e a paciência irão começar a se tornar uma realidade em sua vida, com o passar do tempo, tanto mais você vai praticando a busca a Deus através da oração, do louvor e da leitura bíblica, adicionando este fator fundamental que é chamado de “dom de línguas”, gerado através do batismo com o Espírito Santo.
Quanto mais você vai orando em línguas, mais você estará sendo edificado. Mas, se você deixar de orar, ou apenas ter o dom mas não usá-lo na prática, de nada adiantará aquilo que você possui. Por isso, use o máximo que você conseguir e o tanto que você quiser. Não há restrições para o uso das línguas, a não ser quando é feito em alta voz para toda a igreja ouvir (1Co.14:27,28).
Quando é você e Deus em particular (e não gritando para chamar a atenção de toda a igreja), você pode orar em toda e qualquer circunstância: no carro, em casa, na rua, na igreja, numa viagem, em todo o tempo! Este é um privilégio que Deus te concede! Para aqueles que estão impuros, Deus irá conceder este dom que, se usado e colocado em prática com constância, irá começar a edificar, retirando as impurezas da alma e trazendo santidade à vida da pessoa.
E, para aquelas pessoas que já estão puras e já vivem uma vida de santidade em comunhão com Deus, Ele irá fazer crescer cada vez mais os frutos do Espírito, pois, como Pedro disse, a sua função não é somente de fazer existir estes frutos, mas de fazer com que eles cresçam na sua vida (2Pe.1:8)! E como é que você irá fazer cresceros frutos? Edificando-se a si mesmo! É edificar e não parar mais de edificar, até que alcancemos “a medida da estatura completa de Cristo” (Ef.4:13).
Como nenhum de nós irá alcançar em vida a estatura completa que Cristo teve – e que é o nosso padrão a ser alcançado – isso significa que todos nós, do maior ao menor, temos que continuar crescendo espiritualmente e nunca pararmos de crescer! Jamais chegaremos a um ponto de santidade ou busca a Deus em que poderemos dizer: “Chega! Já estou santo demais”!
Ao contrário: a vida cristã é feita de edificar a si mesmo e continuar edificando cada vez mais! E como é que você irá edificar sempre a si mesmo? Orando sempre em línguas! É por isso que Paulo tanto orava em línguas, que o fazia mais do que todos os coríntios:
“Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos” (1 Coríntios 14:18)
E a prática constante deste dom irá gerar dentro de nós um homem maduro, de grande estatura, uma casa bem construída, sob um firme alicerce que é Cristo, que nunca para de ser edificada, para a glória de Deus! Sugiro, sobre este tema em especial, a leitura do excepcional livro: “O Falar em Línguas: A Linguagem Sobrenatural da Oração”(editora orvalho), do pastor Luciano Subirá, que trata do assunto com muito mais abrangência do que o tempo que eu tenho aqui.
Tenho certeza que, após você descobrir o quão profundo e sublime é o mistério do dom de Deus que Ele enviou aos Seus servos através do batismo com o Espírito Santo, você não irá mais tratar este dom como uma coisa qualquer a ser engavetada, mas irá aproveitar cada oportunidade a qualquer momento para continuar na edificação da sua casa espiritual, que cresce e se desenvolve na medida em que você coloca em prática aquilo que Deus confiou a você.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
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