Uma polêmica que volta à tona a
cada fim de ano é se o cristão pode celebrar o natal. Os que são contra a
prática alegam que ela tem origem pagã, e, portanto, deve ser proibida para o
cristão. O que sustentarei neste artigo é que celebrar o natal não é nenhum
pecado e deve ser uma opção livre de cada cristão, e que o “argumento do
paganismo” não é forte o bastante aqui. Isso porque é preciso distinguir entre
coisas que provém do paganismo e que são pecado,
e coisas que provém do paganismo mas que não são pecaminosas e que, em
muitos casos, são até úteis e praticadas por qualquer um desses que condenam a celebração do natal. Abaixo segue alguns exemplos (a maioria deles disponível na página Defensores
do Evangelho, por Zilton Alencar):
18 de dezembro de 2017
22 de novembro de 2017
Uma perspectiva arminiana da Teologia da Aliança – Dr Vic Reasoner
Muitos
arminianos têm praticamente corrido até o fast-food
da teologia aceitando qualquer ajuda que lhes pareça suficiente. Antes de
aceitarmos toda a teologia popular dos mestres mais famosos, seria melhor que
averiguássemos em quais pressupostos seus ensinamentos se baseiam. Um entendimento
adequado das alianças nos ajudará a esclarecer um pouco essa confusão.
20 de novembro de 2017
As profecias cessaram? Existem profetas hoje?
Recebi recentemente a mensagem
de uma leitora que foi confrontada por um cessacionista com o texto de Hebreus
1:1-2, que supostamente diria que Deus não fala mais por meio de profetas desde
que Jesus veio ao mundo:
“Há
muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos
antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio
do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez
o universo” (Hebreus 1:1-2)
Seria essa a interpretação correta
do verso? Teriam as profecias cessado? Há muitas boas razões para entender que o autor de Hebreus não estava falando que não há mais profetas nos dias de hoje, mas sim que a encarnação de Jesus fala hoje mais alto que qualquer profecia do Antigo Testamento. Vejamos:
(1) No livro de Atos vemos que existiam profetas na Igreja,
inclusive um chamado Ágabo, que profetizava já depois da morte e ressurreição
de Jesus:
“Naqueles
dias alguns profetas desceram de Jerusalém para Antioquia. Um deles, Ágabo,
levantou-se e pelo Espírito predisse que uma grande fome sobreviria a todo o
mundo romano, o que aconteceu durante o reinado de Cláudio” (Atos
11:27-28)
“Depois
de passarmos ali vários dias, desceu da Judeia um profeta chamado Ágabo. Vindo
ao nosso encontro, tomou o cinto de Paulo e, amarrando as suas próprias mãos e
pés, disse: ‘Assim diz o Espírito Santo: Desta maneira os judeus amarrarão o
dono deste cinto em Jerusalém e o entregarão aos gentios’. Quando ouvimos isso,
nós e o povo dali rogamos a Paulo que não subisse para Jerusalém” (Atos
21:10-12)
Como vemos, Ágabo era um profeta
que profetizava coisas grandiosas, como uma fome que de fato sobreveio a todo o
mundo romano, e o que aconteceria com Paulo se fosse a Jerusalém. Acertou em
ambas.
(2) Paulo lista a profecia entre os dons e chamados divinos:
“Assim,
na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar,
profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que
têm dom de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que têm dons de
administração e os que falam diversas línguas” (1ª Coríntios 12:28)
“Temos
diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de
profetizar, use-o na proporção da sua fé” (Romanos 12:6)
"Segui
o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de
profetizar" (1ª Coríntios 14:1)
“Portanto,
meus irmãos, busquem com dedicação o profetizar e não proíbam o falar em
línguas” (1ª Coríntios 14:39)
E este dom de profecia não se
limitava aos homens, pois mulheres também profetizavam:
“Todo
homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra a sua cabeça; e toda
mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça; pois
é como se a tivesse rapada” (1ª Coríntios 11:4-5)
(3) O evangelista Filipe tinha filhas que profetizavam:
"E
tinha este quatro filhas virgens, que profetizavam" (Atos 21:9)
(4) O próprio livro de Apocalipse é uma profecia:
“Feliz
aquele que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam
o que nela está escrito, porque o tempo está próximo” (Apocalipse 1:3)
“Eis
que venho em breve! Feliz é aquele que guarda as palavras da profecia deste
livro” (Apocalipse 22:7)
Note que todos esses textos aqui
listados são de depois de Jesus ter
vindo, morrido e ressuscitado. Muitos deles são depois da escrita da carta aos
Hebreus. Não há, portanto, qualquer base para inferir que a profecia cessou
porque Deus enviou Jesus, ou porque temos a Bíblia. Há quem diga que a profecia
não cessou naquela era apostólica, mas ao final dela, ou após o fechamento do
cânon. Mas tais alegações não passam de suposições sem qualquer fundamento
bíblico. Na única vez em que Paulo falou que as profecias cessariam, era no
contexto da volta de Jesus, e não antes:
“O
amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o
conhecimento passará. Pois em parte
conhecemos e em parte profetizamos; quando, porém, vier o que é perfeito, o que
é imperfeito desaparecerá. Quando eu era menino, falava como menino,
pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei
para trás as coisas de menino. Agora,
pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos
face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma
forma como sou plenamente conhecido. Assim, permanecem agora estes três: a fé,
a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor” (1ª Coríntios
13:8-13)
Os cessacionistas costumam
isolar o verso 8, que diz que “as profecias cessarão”, mas se esquecem de
mostrar o contexto, que mostra quando isso
irá acontecer. Diante do contexto, isso ocorrerá quando tivermos o conhecimento
completo e perfeito das coisas. Sabemos que isso só ocorrerá quando Jesus
voltar e formos levados ao Seu encontro, aí sim o veremos “face a face”, aí sim
“o conheceremos plenamente”, e aí sim “o imperfeito desaparecerá”. Não haverá
dom de línguas ou de profecia na eternidade ao lado de Deus, por isso elas
“desaparecerão”, mas não na era apostólica ou em algum momento nos primeiros
séculos, mas sim quando “vier o que é perfeito”, ou seja, Jesus. O que é para
nós um “reflexo obscuro” hoje, será plenamente conhecido quando Jesus voltar.
Agora
|
Quando Jesus
voltar
|
Há
profecias (v. 8)
|
As
profecias cessarão (v. 8)
|
Há
amor (v. 8)
|
O
amor continuará (v. 8)
|
Conhecemos
“em parte” (v. 9)
|
Conheceremos
plenamente (v. 12)
|
Vivemos
na imperfeição (v. 10)
|
“Virá
o perfeito” (v. 10)
|
Vemos
um “reflexo obscuro” (v. 12)
|
Veremos
face a face (v. 12)
|
Observe ainda que o mesmo texto
que diz que “as profecias desaparecerão” também diz que “o conhecimento
passará”. Deveríamos então viver na ignorância, já que isso passou a valer
desde os primeiros séculos, e não na volta de Jesus? Seria uma interpretação
bastante sofrível. Se o conhecimento continua, então as profecias, citadas na
mesma frase e dentro do mesmo contexto, necessariamente continuam também. De
fato, essa passagem é tão enfática que Pedro Crisólogo (406-451), escrevendo já
depois da conclusão do cânon, assim discorreu:
“Quanto
às palavras ‘até que tudo tenha levedado’, dizem respeito ao que diz o apóstolo
Paulo: ‘Imperfeita é a nossa ciência, imperfeita também a nossa profecia.
Quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito’ (1 Co 13,9). O
conhecimento de Deus está agora na massa: espalha-se nos sentidos, enche os
corações, aumenta as inteligências e, tal como todo o ensinamento, alarga-os,
eleva-os e desenvolve-os até às dimensões da sabedoria celeste. Tudo será
levedado em breve. Quando? Na segunda
vinda de Cristo” (Sermão 99)
Os cessacionistas frequentemente
argumentam que, como a Escritura é perfeita, infalível e suficiente, torna-se
desnecessária a existência de profetas em nossos dias. O problema com este
argumento é que ele parte de um sofisma e de uma distorção do conceito de Sola
Scriptura. Partindo desse mesmo pressuposto, não precisaríamos de igrejas, nem
de pastores, nem de presbíteros, nem de credos, concílios ou confissões de fé,
pela mesma razão pela qual não precisaríamos de profetas. Simplesmente
sairíamos por aí distribuindo Bíblias e então deixar cada um por si. É óbvio
que as coisas não funcionam assim. A Sola Scriptura não exclui a existência de
autoridades secundárias em submissão e obediência às Escrituras, entre elas os
cargos ministeriais que Paulo lista:
“E
ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas, e outros para pastores e mestres” (Efésios 4:11)
Note que nas igrejas reformadas
cessacionistas há os “apóstolos” (no sentido bíblico de “missionários”), os
evangelistas, os pastores e mestres. Só faltam os profetas. Mas se a Sola
Scriptura não exclui a existência de pastores e mestres, também não deveria ser
um argumento para excluir profetas. Pode-se argumentar: “Mas profetizar o que,
se já temos a Bíblia?”. Mas a Bíblia é a nossa regra de fé, diante da qual
todas as doutrinas devem ser julgadas e então aprovadas ou rejeitadas. Se um
suposto profeta está propagando doutrinas que não se encontram na Bíblia, é
apenas um falso profeta, um charlatão.
“E então, pra que serve a
profecia?”. Ocorre que a profecia não tem a ver com doutrina, que é no que
consiste a Sola Scriptura, mas com aspectos mais pessoais e subjetivos de cada
indivíduo, para os quais a Bíblia pouco ou nada fala. Citemos aqui como exemplo
o próprio caso de Ágabo, que profetizou uma fome mundial e algo que aconteceria
com Paulo. Suponhamos que Deus queira transmitir as mesmas coisas nos dias de
hoje, a outra pessoa. Ele poderia usar a Bíblia para isso? Não, porque a Bíblia
não diz se haverá fome na sua cidade
dentro de tantos anos, ou o que acontecerá a você pessoalmente se for a tal lugar. A Bíblia é suficiente para nos
levar à salvação, mas ela não se direciona a esse tipo de coisa, e nem poderia.
Portanto, profetas continuam sendo necessários hoje da mesma forma e pela mesma
razão que eram necessários na época de Paulo.
Deus não falou com a Igreja
sobre a fome e com Paulo sobre a perseguição que sofreria se fosse a Jerusalém
mediante as Escrituras que já existiam (i.e, o Antigo Testamento), mas através
de profetas. A Bíblia nos dá uma
direção a seguir, um norte, um guia, uma orientação, mas não pode lidar
exaustivamente com os acontecimentos pessoais de cada sujeito em específico,
como um “oráculo”. Para isso existem os profetas, de ontem e de hoje. A única
razão que justificaria a cessação de profecia nos dias atuais seria se essas
profecias tivessem por finalidade adicionar
doutrinas à Bíblia, retirar ou adicionar algo ao seu código moral, mas
logicamente não é a isso que a verdadeira profecia se destina.
Há um texto bem conhecido em
Atos 2:17, que diz:
“Nos últimos dias, diz Deus, derramarei
do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas
profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos” (Atos
2:17)
Sim, é verdade que Pedro
aplicava esse texto já para aqueles dias e não somente a um futuro distante,
mas note que Joel falava dos “últimos
dias”, o que biblicamente engloba todo o período desde a ressurreição de
Cristo até Sua volta gloriosa. É como em uma partida de futebol dividida em
dois tempos: o primeiro e o segundo tempo, que seria o “último tempo”. Na
escatologia cristã, até a volta de Jesus não existe um “tempo” depois do “último”.
Por conseguinte, o que Joel afirma e é citado por Pedro se aplica não somente à
época de Pedro, mas a todo o período conhecido como “os últimos dias”, até a
volta de Jesus. Mesmo porque seria altamente improvável que Joel fizesse uma
profecia para os “últimos dias” que não se aplicasse à maior parte dos “últimos
dias”, o que inclui os próprios anos finais que antecedem a segunda vinda de Cristo.
Talvez a razão de tanta
hesitação de algumas igrejas mais tradicionais frente ao reconhecimento de
profetas nos tempos modernos se dê por conta do ceticismo em relação a muitos
que se passam por “profetas” por aí. E de fato, a julgar pela qualidade de
muitos autointitulados “profetas” em nosso meio, temos que reconhecer que eles tem
razão em serem céticos. Infelizmente, o que mais há hoje em dia são “profetas”
que vivem dando “profetadas” pela carne, que só profetizam bênçãos materiais, “vitória”
e sucesso, e que nunca fazem mais do que profecias deliberadamente vagas que
abrem uma grande margem de erro justamente para nunca serem flagrados em um. Há
até pastores que cobram mais para pregar com profecia, fazendo da profecia um
negócio vantajoso.
Mas se temos uma coisa que
aprendemos na Bíblia, é que a existência de falsos profetas não anula a
existência de profetas verdadeiros, ainda que estes sejam a minoria, mesmo que
se resumam a um punhado. Eu já recebi “profetada” descaradamente falsa, mas
também profecia específica e verdadeira que dificilmente teria vindo de um
falso profeta. E isso não é nenhum fenômeno moderno: desde a era apostólica
havia os profetas verdadeiros e os falsos.
De fato, não faria qualquer
sentido a instrução de nos acautelarmos dos falsos profetas (Mt 7:15) se não
existissem profetas verdadeiros. Neste caso, nem precisaríamos distinguir o
verdadeiro do falso, pois qualquer profeta que surgisse seria sempre
necessariamente falso. É por isso que Paulo pediu que “não
desprezeis as profecias” (1Ts 5:20), mas acrescenta logo em seguida que “ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom”
(v. 21). Ou seja, uma profecia não é feita para ser seguida acriticamente, mas
para ser julgada à luz das Escrituras, tanto pela pessoa que a recebe (1Ts
5:21) como pelos outros profetas (1Co 14:29). Se bem “peneirada”, ela pode
servir de grande edificação na vida de quem que a recebe (1Co 14:1-5), mas, caso
contrário, corre o risco de frustrar pessoas sinceras e bem intencionadas, seja
tomando decisões erradas ou não recebendo o que se promete.
Paz a todos vocês que estão em
Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (www.facebook.com/lucasbanzoli1)
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