Uma polêmica que volta à tona a
cada fim de ano é se o cristão pode celebrar o natal. Os que são contra a
prática alegam que ela tem origem pagã, e, portanto, deve ser proibida para o
cristão. O que sustentarei neste artigo é que celebrar o natal não é nenhum
pecado e deve ser uma opção livre de cada cristão, e que o “argumento do
paganismo” não é forte o bastante aqui. Isso porque é preciso distinguir entre
coisas que provém do paganismo e que são pecado,
e coisas que provém do paganismo mas que não são pecaminosas e que, em
muitos casos, são até úteis e praticadas por qualquer um desses que condenam a celebração do natal. Abaixo segue alguns exemplos (a maioria deles disponível na página Defensores
do Evangelho, por Zilton Alencar):
• O bolo tem origem pagã, e
remonta os cultos à deusa Ártemis (a mesma deusa Diana citada em Atos 19:24).
Os primeiros tipos de bolo eram feitos com farinha e mel e oferecidos a esta
deusa como oferendas.
• O vestido branco de casamento
tem origem nas vestes usadas nos sacrifícios humanos dos cultos pagãos, onde
uma vítima teria que ser sacrificada aos deuses: uma virgem, que deveria usar
uma roupa de cor branca que apontava para a condição de sua virgindade.
• As alianças não só têm origem
pagã, como o seu uso no dedo anular da mão esquerda também é costume pagão e
supersticioso: a tradição do paganismo afirma que elas devem forçosamente ser
colocadas neste dedo, pois há uma veia que passa exatamente nele, e que
desemboca diretamente no coração. Esta “informação” é desmentida pela anatomia.
• O ato da noiva jogar o buquê ao
término da cerimônia também vêm do paganismo: a moça que o pegar será a próxima
a se casar. Este costume, embora claramente supersticioso, nunca foi condenado
nem abolido de nosso meio.
• A troca de cálices no brinde
entre os noivos também é costume pagão, assim como o ato de o noivo dar de
comer à noiva um pedaço de bolo, e vice-versa. Este costume tem suas origens
nas alianças primitivas, e foi perpetuado no nosso tempo através da cultura
pagã cigana.
• O ato de se jogar arroz na
saída dos noivos também faz parte da tradição pagã. Os chineses praticam esta
tradição há milênios em suas cerimônias de casamento, e estão declarando ao
fazê-lo: “Os deuses te abençoem, jamais deixando faltar arroz em tua panela” (o
arroz é a base da alimentação do povo chinês).
• Enquanto argumenta-se que a
ceia e os presentes no natal são pecado, ambos são feitos nos casamentos sem
qualquer constrangimento. Inclusive, listas de presentes são estrategicamente
deixadas em lojas da cidade, para "obrigar" os convidados a comprar
presentes caros. Se cristão não pode celebrar o natal, então muito menos deveria celebrar casamentos.
• A ornamentação da igreja e do
salão de recepções inclui muitas coisas de origem pagã (estatuetas no bolo,
lembrancinhas, etc). Além disto, muitos elementos do cerimonial foram
originados das cerimônias católicas (marcha nupcial, a forma da entrada de
noivos e padrinhos, etc).
• Ao se chegar em casa, ou na
suíte nupcial, o noivo carrega a noiva no colo, romanticamente. Mas este ato
era um ritual romano, que simbolizava não só a "posse" da mulher pelo
marido (propriedade mesmo!), mas também o fim do culto dos deuses da família da
noiva, que passaria a adotar os deuses do marido.
• De origem totalmente pagã, a
medicina tem como símbolo o Bordão de Esculápio, relacionado à astrologia e que
representa um deus pagão egípcio, até hoje patrono da medicina. Da mesma forma,
o crente que não celebra o natal por ter origem pagã também não poderia fazer
uso da medicina, que também é pagã. Eles devem contar apenas com o poder da
oração e da fé.
• Outro detalhe pagão ligado à
medicina é a farmácia, estabelecimento para onde somos imediatamente
encaminhados apos a consulta médica. Este nome tem origem na palavra grega φαρμακεια (pharmakeia),
que no NT é traduzida como feitiçaria (Gl 5:20). Portanto, se demônios
são adorados de forma inconsciente ao se armar uma árvore de natal, também o
são quando vamos a um médico ou farmácia, já que a origem de ambos é pagã.
• Quem estudar sobre as origens
das enfermeiras saberá que as primeiras profissionais da área foram recrutadas
entre as prostitutas, mas nem por isso ser enfermeira é pecado.
• A prática esportiva teve
início remoto. Já havia monumentos de vários estilos esportivos dos antigos
egípcios, babilônios e assírios com cenas de luta, jogos de bola, natação,
acrobacias e danças. Os próprios Jogos Olímpicos foram criados na Grécia, mas
nem por isso é pecado praticar esportes.
• A hermenêutica, estudada na
teologia e no direito, também tem origem pagã, pois vem do "deus"
Hermes, o intérprete dos "oráculos divinos", mas nem por isso é
pecado estudar essa disciplina.
• A filosofia vem dos gregos de
antes de Cristo, mas nem por isso ser filósofo ou estudar filosofia é pecado.
• Os dias da semana em inglês
são referências a deuses pagãos (por exemplo, Thursday, que significa “dia de Thor”), mas nem por isso um inglês
ou americano está em pecado por chamar os dias da semana da mesma que conhece.
• Quando os pianos surgiram,
eram usados em cabarés, mas nem por isso ter ou tocar piano é pecado.
• As universidades foram criadas
pelos árabes (muçulmanos), sendo a primeira delas a Universidade
al Quaraouiyine, do Marrocos, fundada em 859, mas nem por isso entrar numa
universidade é pecado.
• Várias ciências (como a
alquimia, que deu origem à química) foram criadas pelos árabes, mas nem por
isso estudar essas ciências é pecado.
• Os árabes também inventaram a
álgebra, mas nem por isso usar a álgebra ou aprendê-la na escola e ensiná-la
aos outros é pecado.
• Os chineses inventaram o
papel, mas nem por isso usar papel é pecado.
Da mesma forma, por mais que o
natal tenha origem pagã, nem por isso
significa que o cristão não pode celebrar o natal.
Alguém poderá contestar aqui:
significa então que devemos aceitar numa boa qualquer invenção pagã? É óbvio
que não é isso o que está sendo dito, porque é preciso distinguir o paganismo tolerável do intolerável. Os pontos acima, e outros milhares que poderiam ser
acrescentados e que envolveriam muita coisa do que você faz no cotidiano, fazem
parte do paganismo tolerável, porque
não envolvem doutrina ou moral. Ou seja, o que vêm do paganismo e deve ser
rejeitado diz respeito ao acréscimo de
doutrinas antibíblicas ou de coisas imorais que nos conduzem ao pecado e para
longe de Deus (por exemplo, uma falsa doutrina sem base bíblica que é
introduzida para dentro da doutrina de alguma igreja, ou alguma prática pagã imoral
e carnal para satisfazer os desejos impuros da carne).
Nós não devemos ser ingênuos a ponto
de só praticar aquilo que foi inventado por cristãos, porque há milhares de
anos antes do Cristianismo existir já havia um mundo muito vivo lá fora, um
mundo “pagão”, mas que contribuiu em grande parte para o desenvolvimento da
civilização, e não devemos ser prepotentes e arrogantes a ponto de descartar e
desprezar tudo o que foi feito pelos pagãos como se fosse tudo ruim ou
inaceitável. Por outro lado, devemos rechaçar com todas as forças tudo aquilo
que nos leva ao pecado, ou seja, o
que diz respeito a doutrina ou moral antibíblica, não apenas do que tenha
procedência pagã, mas até mesmo do que foi inventado por cristãos sem base
bíblica.
Isso implica que, desde que algo
não nos conduza a novas doutrinas ou a práticas imorais, não há problema com
isso, independentemente se é uma criação original de povos pagãos ou cristãos.
E é claro que o natal não diz respeito a práticas imorais pecaminosas e nem a
uma nova doutrina, mas apenas a um costume moralmente aceitável, que é praticado
por muita gente. Ou seja, não é a origem das
coisas que deve ser priorizada, mas sim seu conteúdo.
Há coisas de origem “cristã” que são repudiáveis (ex: falsas doutrinas,
como a teologia da prosperidade, que nasceu em seio cristão), e da mesma forma
há coisas de origem pagã (ex: o casamento) que são totalmente toleráveis. Por
isso é errado colocar tudo na mesma “caixinha” do paganismo, e rejeitar tudo a priori.
O que os cristãos fazem no
natal? Reúnem a família, se confraternizam, trocam presentes, celebram o
nascimento do menino Jesus. Nada disso é algo imoral ou uma falsa doutrina. São
práticas que seriam tidas como perfeitamente normais e aceitáveis se não fosse
pela acusação de “origem pagã” – e neste caso, teriam também que repudiar todos os outros pontos da lista que
passamos aqui. Há quem possa alegar que está errado mesmo assim, porque não foi
neste dia que Jesus nasceu. O problema é que ninguém sabe o dia exato do nascimento de Jesus, então escolhermos
um dia do calendário para celebrar algo tão importante como a vinda do Redentor
do mundo é algo perfeitamente aceitável, ainda que não seja no dia exato em questão. Quando Deus lá de
cima olha as pessoas celebrando o nascimento de Seu filho, ele não fica irado
por estarem celebrando no “dia errado” por não saberem o dia específico, pois
conhece a intenção de cada coração,
que é boa.
Quando os cristãos se reúnem
para celebrar o natal, estamos conscientes de que não estamos “adorando um deus
pagão” ou “celebrando o Papai Noel”, mas sim que estamos rendendo honra e
glória ao Senhor Jesus. Desde que essa seja a intenção e o propósito no coração
de cada cristão que assiste a uma peça natalina, ou que troca presentes com
parentes e amigos, ou que se reúne com eles em confraternização e comunhão, não
há em absoluto qualquer pecado ou transgressão às leis de Deus. Nenhum cristão
estará “adorando um deus pagão inconscientemente” por falar de Jesus em 25 de
dezembro. Em vez disso, é uma ótima oportunidade de falar ao mundo sobre o
verdadeiro sentido do natal, de modo a fazê-los olhar para Aquele que um dia se
fez carne, veio ao mundo e se tornou um de nós para nos salvar. Que
aproveitemos essa preciosa oportunidade, em vez de nos metermos em incansáveis discussões
sobre se o cristão pode celebrar o natal.
Paz a todos vocês que estão em
Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (www.facebook.com/lucasbanzoli1)
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É quanto à Páscoa que celebramos todo ano, que pensas?
ResponderExcluirO dia da páscoa é provado biblicamente, sabemos quando os judeus comemoravam a solenidade e consequentemente sabemos também em que dia Jesus morreu e ressuscitou (não é como no natal, que ninguém sabe ao certo em que dia Jesus nasceu e por convenção social definiu-se esse dia para comemoração). Ou seja, a páscoa é inteiramente "certinha", até no dia em que a celebramos, enquanto o natal pode ser celebrado (como mostro no artigo) mas com a consciência de que a data correta não é aquela.
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