EPÍSTOLA DE BARNABÉ
1 A fé dos destinatários Grandes e ricos são os decretos de Deus a
vosso respeito. Acima de tudo, eu me alegro imensamente pelos vossos espíritos
felizes e gloriosos, pois dele recebestes a semente plantada em vós mesmos, a
graça do dom espiritual. Por isso, eu me alegro mais na esperança de me salvar,
porque verdadeiramente vejo em vós que o Espírito da fonte abundante do Senhor
foi derramado sobre vós. Em vosso caso, foi isso que me chamou a atenção ao
vê-los, o que eu tanto desejava.
Estou convencido e intimamente
persuadido disso, porque conversei muito convosco. O Senhor caminhou comigo no
caminho da justiça e eu também me sinto impulsionado a amar-vos mais do que à
minha própria vida, pois a fé e o amor que habitam em vós são grandes e
fundados sobre a esperança da vida dele. Pensei que, se eu me preocupasse em
participar-vos aquilo que recebi, eu teria recompensa por ter servido a
espíritos como os vossos. Esforcei-me então para vos enviar estas poucas
linhas, para que, além de vossa fé, tenhais também o conhecimento perfeito. Os
ensinamentos do Senhor são três: a esperança da vida, começo e fim da nossa fé;
a justiça, começo e fim do julgamento; o amor, testemunho pleno da alegria e
contentamento das obras realizadas na justiça. Com efeito, por meio dos
profetas, o Senhor nos fez conhecer o passado e o presente, e nos fez saborear
antecipadamente o futuro. Vendo que uma e outra coisa se realizam conforme ele
falou, devemos progredir no seu temor, de maneira mais rica e mais elevada. 8
Quanto a mim, não é como mestre, mas como um de vós, que vos preparei umas
poucas coisas. Através delas, vocês se alegrarão nas circunstâncias presentes.
2 Como os dias são maus e é aquele que exerce o poder, devemos,
para o nosso próprio bem, procurar as decisões do Senhor. Os auxiliares da
nossa fé são o temor e a perseverança, e nossos companheiros de luta são a
paciência e o autocontrole. Se essas virtudes permanecem puras diante do Senhor,
a sabedoria, a inteligência, a ciência e o conhecimento virão regozijar-se com
elas.
De fato, foi-nos mostrado,
mediante todos os profetas, que Deus não tem necessidade de sacrifícios, nem de
holocaustos, e nem de ofertas. Em certa ocasião, ele diz: “Que me importa a
multidão de vossos sacrifícios?” diz o Senhor. “Estou farto dos holocaustos de
carneiros e da gordura de cordeiros não sangue de touros e de bodes, e nem que
venhais vos apresentar diante de mim. Quem pediu essas coisas de vossas mãos? Não
continueis a pisar em meu átrio. Se ofereceis flor de farinha, é em vão; vosso
incenso para mim é abominação. Não suporto vossas neomênias e vossos sábados.”
Ele rejeitou essas coisas, para
que a lei nova de nosso Senhor Jesus Cristo, que é sem o jugo da necessidade,
não precise de oferta preparada por homens. Ele ainda lhes disse: “Por acaso,
ordenei a vossos pais, ao saírem do Egito, que me oferecessem holocaustos? Pelo
contrário, eis o que lhes ordenei: Que nenhum de vós guarde em seu coração
rancor contra o próximo e que não ame o juramento falso.” Devemos, portanto,
compreender, pois não somos sem inteligência, o desígnio de nosso Pai em sua
bondade, pois ele se dirige a nós, desejando que procuremos o modo de nos
aproximar dele, sem nos extraviar, como aqueles homens. Eis, portanto, o que
ele nos diz: “O sacrifício para Deus é um coração contrito; o perfume de suave
odor para o Senhor é o coração que glorifica o seu Criador.” Irmãos, devemos,
portanto, cuidar de nossa salvação, para que o maligno não introduza em nós o
erro, e nos atire, como pedra de funda, para longe da nossa vida.
3 A respeito disso, falou-lhes ainda, “Com que finalidade jejuais
para mim”, diz o Senhor, “como se ouve hoje aos gritos a vossa voz? Não é esse
jejum que escolhi”, diz o Senhor, “não o homem que humilha a si mesmo. Nem
quando dobrais vosso pescoço como um círculo, nem quando vos cobris de pano de
saco e cinza, não chameis isso de jejum agradável.” Para nós, porém, ele diz:
“Eis o jejum que eu escolhi”, diz o Senhor: “Desata todas as amarras da
injustiça; desfaz as cordas dos contratos iníquos; envia os oprimidos em
liberdade; rasga toda escritura injusta; reparte teu pão com os famintos; se
vês alguém nu, veste-o; conduz para a tua casa os desabrigados; se vês algum
pobre, não o desprezes; não te afastes dos membros de tua família.
Então tua luz romperá pela
manhã, tuas vestes rapidamente resplandecerão, a justiça irá à tua frente e a
glória de Deus te envolverá. Então outra vez gritarás, e Deus te ouvirá. Ao
falar, ele te dirá: Eis-me aqui! Isso, se renunciares a tecer amarras, a
levantar a mão, a murmurar, e se deres de coração o teu pão ao faminto e
tiveres compaixão da pessoa necessitada.” Por isso, irmãos, o paciente (Deus),
prevendo que o povo, que ele preparou através do seu Amado, acreditaria com
simplicidade, nos antecipou todas essas coisas, para que nós, como prosélitos,
não nos arrebentássemos contra a lei deles.
4 É preciso, portanto, que examinemos com grande atenção a situação
presente, para procurar o que nos pode salvar. Fujamos, pois, radicalmente de
todas as obras iníquas, para que as obras iníquas jamais se apoderem de nós.
Odiemos o erro do mundo presente, para que sejamos amados no mundo futuro. Não
demos à nossa alma a liberdade, de modo que ela não tenha poder de correr com
os maus e pecadores, a fim de que não nos tornemos semelhantes a eles.
O máximo do escândalo se
aproxima, conforme está escrito, como diz Henoc . Com efeito, é por isso que o
Senhor abreviou os tempos e os dias, a fim de que seu Amado chegue mais
depressa à herança. Assim diz o profeta: “Dez reis reinarão sobre a terra e,
depois disso, surgirá um pequeno rei que humilhará três reis de uma só vez.”
Sobre isso, Daniel diz algo semelhante: “Vi a quarta besta, maligna, forte e
mais terrível do que todas as bestas do mar. Dela brotaram dez chifres, e
desses saiu um pequeno chifre, como broto. Este, de uma só vez, humilhou três
dos chifres grandes.” Deveis, portanto, compreender.
Além disso, peço- vos
insistentemente, eu que sou um e vós e vos amo a todos e a cada um em
particular mais do que a .mim mesmo: tomai cuidado para não ficardes como
certas- pessoas, que acumulam pecados, dizendo que a Aliança está garantida
para nós. Claro que era é nossa. Eles (os judeus) a perderam definitivamente,
embora Moisés já a tivesse recebido. De fato, a Escritura diz: “Moisés jejuou
na montanha durante quarenta dias e quarenta noites, e depois recebeu do Senhor
a Aliança, as tábuas de pedra escritas pelo dedo da mão do Senhor.” Eles,
porém, a perderam, por se terem voltado para os ídolos. Com efeito, assim disse
o Senhor: “Moisés, Moisés, desce depressa, pois teu povo pecou, aqueles que
fizeste sair da terra do Egito.” Moisés compreendeu, e jogou as duas tábuas de
suas mãos.
A Aliança deles foi rompida,
para que a de Jesus, o Amado, fosse selada em nossos corações pela esperança da
fé que nele temos. Querendo escrever muitas coisas, não como mestre, mas como
convém a quem ama, não deixando perder nada do que possuímos, apliquei-me a
escrever, como vosso humilde servidor. Estejamos atentos nestes últimos dias!
Nada adiantará todo o tempo de nossa vida e de nossa fé, se agora, neste tempo
de impiedade e na iminência dos escândalos, não resistirmos, como convém a
filhos de Deus. A fim de que a Treva não se infiltre em nós e às escondidas,
fujamos de toda vaidade e odiemos completamente as obras do mau caminho. Não
vos isoleis, dobrando-vos sobre vós mesmos, como se já estivésseis
justificados, mas reuni-vos, para procurar juntos o vosso bem comum. De fato, a
Escritura diz: “Ai daqueles que se crêem inteligentes e que são sábios diante
de si mesmos!”
Tornemo-nos espirituais,
tornemo-nos um templo perfeito para Deus. Quanto nos for possível,
apliquemo-nos ao temor de Deus e combatamos para observar seus mandamentos, a
fim de nos alegrarmos em suas disposições. O Senhor julgará o mundo com
imparcialidade; cada um receberá segundo o que fez. Se for bom, sua justiça o
precederá; se for mau, diante dele irá o salário do mal. Tomemos cuidado
para não ficarmos tranqüilos como chamados, adormecendo sobre nossos pecados,
de modo que o príncipe do mal se apodere de nós e nos afaste do reino do
Senhor. Meus irmãos, compreendei ainda o seguinte: quando vedes que, depois de
tantos sinais e prodígios acontecidos em Israel, assim mesmo eles foram
abandonados, tomemos cuidado, como está escrito, para que não sejamos
encontrados “muitos chamados, mas poucos escolhidos.”
5 O Senhor suportou entregar sua própria carne à destruição, para
que fôssemos purificados pelo perdão dos pecados, isto é, pela aspersão feita
com seu sangue. A respeito dele, a Escritura diz o seguinte sobre Israel e
sobre nós: “Ele foi ferido por causa de nossas iniqüidades e maltratado por
causa de nossos pecados, e nós fomos curados por sua chaga. Foi conduzido como
ovelha ao matadouro e, como cordeiro, ficou mudo diante do tosquiador.”
Precisamos, portanto,
multiplicar nossos agradeci mentos ao Senhor, porque ele nos fez conhecer as
coisas passadas, tornou-nos sábios no presente e não estamos sem inteligência
para as coisas futuras. A Escritura diz: “Não se estendem injustamente as redes
para os pássaros.” Isso quer dizer que, com razão, se perderá o homem que,
tendo conhecimento do caminho da justiça, toma entretanto o caminho das trevas.
Ainda o seguinte, meus irmãos:
“Se o Senhor suportou sofrer por nós, embora fosse o Senhor do mundo inteiro, a
quem Deus disse desde a criação do mundo: ?Façamos o homem à nossa imagem e
semelhança’, como pode ele suportar sofrer pela mão dos homens? Aprendei. Os profetas,
que tinham a graça dele, profetizaram a seu respeito. E ele afim de destruir a
morte e mostrar a ressurreição dos mortos, teve que se encarnar e sofrer, afim
de cumprir a promessa feita aos pais e preparar para si o povo novo e
demonstrar, durante sua estada na terra, que era ele mesmo que julgaria, depois
de ter realizado a ressurreição.
Por fim, embora ele tivesse
ensinado a Israel e realizado tão grandes prodígios e sinais, eles não foram
levados por sua pregação a amá-lo acima de tudo. Porém, quando ele escolheu
seus próprios apóstolos, que iriam anunciar o seu Evangelho, homens cujo pecado
ultrapassava a medida, foi para mostrar que ele não tinha vindo chamar os
justos, e sim os pecadores. Então ele manifestou que era Filho de Deus. Com
efeito, se não se tivesse encarnado, como os homens poderiam ter sido salvos ao
vê-lo, uma vez que eles não podem levantar os olhos para olhar de frente os
raios do sol, que todavia um dia deixará de existir e que é tão-somente obra de
suas mãos?
Se o Filho de Deus se encarnou,
foi para levar ao máximo os pecados daqueles que tinham perseguido mortalmente
os profetas dele. E por isso que ele suportou. De fato, Deus diz que é deles
que vem a ferida de sua carne: “Quando ferirem o seu pastor, então as ovelhas
do rebanho perecerão.” Foi ele, porém, que quis sofrer desse modo. Com efeito,
era preciso que ele sofresse sobre o madeiro, pois o profeta diz a seu
respeito: “Poupa à minha vida à espada.” E “transpassa com cravo a minha carne,
porque uma assembléia de malfeitores se levantou contra mim.” E diz ainda: “Eis
que ofereci minhas costas aos açoites e minha face para as bofetadas. Contudo,
mantive o meu rosto como pedra dura.”
6 O que diz ele, quando cumpriu o mandamento? “Quem é que me julga?
Coloque-se diante de mim. Ou quem quer ser declarado justo diante de mim? Que
se aproxime do servo do Senhor. Ai de vós! Porque todos vós envelhecereis como
veste e a traça vos roerá.” E o profeta continua, uma vez que ele foi colocado
como sólida pedra para esmagar: “Eis que colocarei nos alicerces de Sião uma
pedra de grande valor, escolhida, angular e preciosa.” O que diz em seguida?
“Aquele que nela crer, viverá para sempre.” Será que a nossa esperança está
numa pedra? De modo nenhum. Mas foi o Senhor que tornou forte a sua carne. Com
efeito, ele diz: “Ele me tornou como pedra dura”. O profeta continua: “A pedra
que os construtores rejeitaram tornou-se a cabeça de ângulo.” E diz ainda:
“Este é o dia grande e maravilhoso que o Senhor fez.”
Eu, humilde servo do amor, vos
escrevo com simplicidade, para que compreendais. O que diz ainda o profeta?
“Uma assembléia de malfeitores me rodeou. Eles me cercaram como abelhas ao
favo.” E “sobre minhas vestes tiraram sortes.” E como era na sua carne que ele
devia revelar-se e sofrer, sua paixão foi revelada de antemão. De fato, o
profeta diz a respeito de Israel: “Ai da vida deles! Pois conceberam um desejo
mau contra si mesmos, dizendo: Amarremos o justo, porque ele nos incomoda.”
Que lhes diz Moisés, outro
profeta? “Eis o que diz o Senhor Deus: Entrai na terra boa, que o Senhor
prometeu a Abraão, Isaac e Jacó. Tomai posse dessa terra, onde correm leite e
mel.” 0 que diz a sabedoria? Aprendei: “Ponde vossa esperança em Jesus, que
deve revelar-se a vós na carne.” Com efeito, o homem é terra que sofre, pois é
da terra que Adão foi plasmado. Que significa: “Na terra boa, terra onde correm
leite e mel”? Bendito seja nosso Senhor, irmãos, pois ele pôs em nós a
sabedoria e o entendimento de seus segredos. Pois o profeta diz: “Quem poderá
compreender uma parábola do Senhor, a não ser o sábio que conhece e ama o seu
Senhor?” Depois de nos ter renovado com o perdão dos pecados, ele fez de nós um
novo ser, de modo que tenhamos alma de criança, como se ele nos tivesse
plasmado novamente.
De fato, a Escritura fala a
nosso respeito, quando ele diz ao Filho: “Façamos o homem à nossa imagem e
semelhança. Que eles dominem sobre os animais da terra, as aves do céu e os
peixes do mar.” E, vendo que nós éramos boa criação, o Senhor disse: “Crescei,
multiplicai-vos e enchei a terra.” Foi isso que ele disse ao Filho. Vou agora
te mostrar como ele fala de nós. Ele realizou segunda criação nos últimos
tempos. O Senhor diz: “Eis que faço as últimas coisas como as primeiras.” Nesse
sentido, assim falou o profeta: “Entrai na terra onde correm leite e mel, e
dominai-a.” Eis-nos, portanto, criados de novo, conforme o que ele diz ainda
por outro profeta: “Eis”, diz o Senhor, “que arrancarei deles” -isto é,
daqueles que o Espírito do Senhor via de antemão-”os corações de pedra, e
implantarei neles corações de carne.”
De fato, é na carne que ele
devia manifestar-se e habitar em nós. Com efeito, meus irmãos, nossos corações
assim habitados formam um templo santo para o Senhor. E o Senhor diz ainda:
“Como me apresentarei diante do Senhor e serei glorificado?” Ele diz:
“Celebrar-te- ei na assembléia de meus irmãos e cantarei teus louvores em meio
à assembléia dos santos.” Portanto, somos nós que ele fez entrar na terra boa.
E o que significam o “leite” e o “mel”? E porque a criança é nutrida primeiro
com o mel e depois com o leite. Igualmente nós, alimentados pela fé na promessa
e na palavra, vivemos dominando a terra. Ora, ele tinha dito antes: “Que eles
cresçam, se multipliquem e dominem os peixes.” E quem pode hoje dominar as
feras, ou os peixes, ou os pássaros do céu? Devemos compreender que dominar
implica poder, a fim de que aquele que ordena possa dominar. Se hoje não é
assim, ele nos disse o tempo: Quando formos perfeitos para sermos herdeiros da
aliança do Senhor.
7 Compreendei, portanto, filhos da alegria, que o bom Senhor nos
revelou tudo de antemão, para que saibamos a quem constantemente celebrar com
ação de graças. Se o Filho de Deus, que é Senhor e julgará os vivos e os
mortos, sofreu para nos dar a vida por meio de seus ferimentos, acreditamos que
o Filho de Deus não podia sofrer, a não ser por causa de nós. Além disso, já
crucificado, deram-lhe a beber vinagre e fel. Escutai como os sacerdotes do
templo se expressaram sobre isso. O mandamento escrito dizia: “Quem não jejuar
no dia do jejum, será condenado à morte.” O Senhor deu esse mandamento, porque
também ele devia oferecer a si próprio pelos nossos pecados, como receptáculo
do Espírito, em sacrifício, a fim de que fosse cumprida a prefiguração
manifestada em Isaac, oferecido sobre o altar.
O que diz ele por meio do
profeta? “Que comam, durante o jejum, do bode oferecido por todos os pecados.”
Notai bem: “E que todos os sacerdotes, e somente eles, comam as vísceras não
lavadas com vinagre.” Por que isso? “Porque vós me fareis beber fel com
vinagre, a mim que ofereci minha carne pelos pecados do meu novo povo. Somente
vós comereis, enquanto o povo jejuará e se flagelará com pano de saco e cinza.”
Isso era para mostrar que ele deveria sofrer na mão deles. Como ele ordenou?
Prestai atenção: “Tomai dois bodes bonitos e iguais, e oferecei-os em
sacrifício. Que o sacerdote tome o primeiro como holocausto pelos pecados.”
E o que farão com o outro? Ele
diz: “O outro é maldito.” Notai como a figura de Jesus é manifestada. “Cuspi
todos nele, transpassai-o, coroai sua cabeça com lã escarlate e, desse modo,
seja expulso para o deserto.” Feito isso, aquele que leva o bode o conduz ao
deserto, tira-lhe a lã e a coloca sobre um arbusto chamado sarça, cujos frutos
costumamos comer quando nos encontramos no campo. Somente os frutos da sarça
são doces. O que significa isso? Prestai atenção: “O primeiro bode sobre o
altar, o outro é maldito”. Justamente o maldito é que é coroado. É que eles o
verão, naquele dia, trazendo sobre sua carne o manto escarlate, e dirão: “Não é
este que outrora crucificamos, depois de o ter desprezado, transpassado e
cuspido?
Na verdade, era este que então
se dizia Filho de Deus.” Qual a sua semelhança com aquele? São bodes
“semelhantes”, “belos”, iguais, para que quando o virem então vir, fiquem
espantados com a semelhança do bode. Eis, portanto, a figura de Jesus que devia
sofrer. E por que se coloca a lã no meio dos espinhos? É uma figura de Jesus
proposta para a Igreja: porque os espinhos são terríveis, aquele que quer pegar
a lã escarlate deve sofrer muito, e deve apossar-se dela através da dor. Ele
diz: “Dessa forma, aqueles que desejam ver-me e alcançar o meu Reino devem
passar por tribulações e sofrimentos, para se apossar de mim.”
8 E que figura pensais que representa o mandamento dado a Israel:
os homens que têm pecados consumados ofereçam a novilha, a imolem e, depois
queimem? Além disso, as crianças deviam recolher as cinzas, colocá-las nos
vasos, enrolar a lã escarlate num pedaço de madeira - de novo aqui a imagem da
cruz e a lã escarlate - e o hissopo. E assim, as crianças deviam aspergir todos
os membros do povo, para que ficassem purificados dos pecados. Reconhecei como
ele vos fala com simplicidade: a novilha é Jesus; os pecadores que a oferecem
são aqueles que o conduziram para ser imolado. Basta com esses homens! Basta
com a glória dos pecadores!
As crianças que fazem a aspersão
são aqueles que nos anunciaram a remissão dos pecados e a purificação do
coração. A eles foi conferida a autoridade de anunciar o Evangelho, e são doze
para testemunhar às tribos, pois as tribos de Israel eram doze. E por que são
três crianças que fazem a aspersão? Para testemunhar Abraão, Isaac e Jacó, que
são grandes diante de Deus. E a lã sobre o madeiro? Ela significa que o Reino
de Jesus está sobre o madeiro e os que nele esperam viverão para sempre.
Contudo, por que se põem juntos a lã e o hissopo? Porque no seu Reino haverá
dias maus e poluídos, durante os quais seremos salvos. Com efeito, é pelo
respingo poluído do hissopo que se cura aquele cuja carne está doente. E por
isso que esses acontecimentos são tão claros para nós, mas para eles tão
obscuros, pois eles não ouviram a voz do Senhor.
9 De fato, é dos ouvidos que ele fala ainda, quando diz que circuncidou
nossos ouvidos e nossos corações. O Senhor diz por meio do profeta:
“Obedeceram-me com os ouvidos.” E diz ainda: “Os que estão longe escutarão com
o ouvido e conhecerão o que eu fiz”. E mais: “Circuncidai vossos ouvidos, diz o
Senhor.” E diz também: “Escuta, Israel, eis o que diz o Senhor teu Deus: Quem
deseja viver para sempre? Que ele escute com o ouvido a voz do meu servo.” E
diz ainda: “Escuta, ó céu; dá ouvidos, ó terra, pois o Senhor falou isso como
testemunho.” E diz mais: “Escutai a palavra do Senhor, príncipes deste povo.” E
diz ainda: “Filhos, escutai a voz que grita no deserto.” Ele, portanto,
circuncidou nossos ouvidos, para que escutemos a palavra e creiamos.
Contudo, a circuncisão, na qual
eles depositavam confiança, foi rejeitada. De fato, ele dissera que a
circuncisão não devia ser da carne, mas eles transgrediram, porque um anjo mau
os enganou. Todavia, ele lhes diz: “Assim fala o Senhor vosso Deus” - é aí que
encontro o mandamento -: “Não semeeis entre os espinhos, mas circuncidai-vos
para o vosso Senhor.” E o que diz ele? “Circuncidai a maldade do vosso
coração.” E diz ainda: “Eis, diz o Senhor, que todas as nações têm o prepúcio
incircunciso, mas este povo tem o coração incircunciso.”
Vós, porém, direis: “O povo
recebeu a circuncisão como selo.” Contudo, todos os sírios, os árabes e todos
os sacerdotes dos ídolos também têm a circuncisão. Pertencem também eles à sua
aliança? Até os egípcios praticam a circuncisão! Filhos do amor, aprendei mais
particularmente estas coisas: Abraão, praticando por primeiro a circuncisão,
circuncidava porque o Espírito dirigia profeticamente seu olhar para Jesus,
dando-lhe o conhecimento das três letras. Com efeito, ele diz: “E Abraão
circuncidou entre os homens de sua casa trezentos e dezoito homens.” Qual é,
portanto, o conhecimento que lhe foi dado? Notai que ele menciona em primeiro
lugar os dezoito e depois, fazendo distinção, os trezentos. Dezoito se escreve:
I, que vale dez, e H, que representa oito. Tens aí: IH(sous) = Jesus. E como a
cruz em forma de T devia trazer a graça, ele menciona também trezentos (= T).
Portanto, ele designa claramente Jesus pelas duas primeiras letras e a cruz
pela terceira. Quem depositou em nós o dom do seu ensinamento sabe bem disto:
Ninguém recebeu de mim ensinamento mais digno de fé. Sei, porém, que vós sois
dignos.
10 Moisés disse: “Não comereis porco, nem águia, nem gavião, nem
corvo, nem peixe algum que não tenha escamas”. Porque ele tinha em mente três
ensinamentos. Por fim, ele diz a eles no Deuteronômio: “Exporei a esse povo as
minhas decisões.” A proibição de comer não é, portanto, mandamento de Deus,
pois Moisés falava simbolicamente. Eis o significado do que ele diz sobre o
“porco”. Não te ligarás a esses homens que se assemelham aos porcos; isto é,
que quando vivem na abundância, se esquecem do Senhor; mas na necessidade
reconhecem o Senhor. Assim é o porco: enquanto está comendo, ele não conhece
seu dono; mas quando está com fome, ele grunhe e, uma vez tendo comido, volta a
se calar. Ele diz: “Também não comerás a águia, nem o gavião, nem o milhafre,
nem o corvo.”
Isto é: não te ligarás,
imitando-os, a esses homens que não sabem ganhar o alimento por meio do
trabalho e do suor, mas que, em sua injustiça, arrebatam o bem alheio. Andam
com ar inocente, mas espionam e observam a quem vão despojar por ambição. Eles
são como essas aves, as únicas que não providenciam o alimento por si próprias,
mas se empoleiram ociosamente, procurando a ocasião de se alimentar da carne
dos outros. São verdadeiros flagelos por sua crueldade. Ele continua: “Não
comerás moreia, nem polvo, nem molusco.” Isto é: não te assemelharás,
ligando-te a esses homens que são radicalmente ímpios e já estão condenados à
morte. O mesmo acontece com esses peixes: são os únicos amaldiçoados, que nadam
nas profundezas, sem subirem como os outros; permanecem no fundo da terra,
habitando o abismo.
Também “não comerás a lebre.”
Por que razão? Isso quer dizer: não serás pederasta, nem imitarás aqueles que
são assim. Porque a lebre, a cada ano, multiplica seu ânus. Ela tem tantos
orifícios quanto o número de seus anos. Também “não comerás a hiena”. Isso quer
dizer: não serás nem adúltero, nem homossexual, e não te Assemelharás àqueles
que são assim. Por que razão? Porque esse animal muda de sexo todos os anos e
torna se ora macho, ora fêmea. EIe odiou também “a doninha”. Muito bem! Não
serás como aqueles que cometem, como se diz, iniqüidade com a boca por
depravação, nem te ligarás a esses depravados que cometem iniqüidade com sua
boca. De fato, esse mal se concebe pela boca. Moisés, tendo recebido tríplice
ensinamento sobre os alimentos, usou linguagem simbólica. Eles, porém, o
entenderam sobre os alimentos materiais, por causa do desejo carnal.
Davi recebeu o conhecimento
desse mesmo ensinamento tríplice. Ele fala de forma semelhante: “Feliz o homem
que não vai ao conselho dos ímpios”, como os peixes que se movem nas trevas
para o fundo; “e que não pára no caminho dos pecadores”, como aqueles que
aparentam temer ao Senhor, mas pecam como o porco; “e que não se assentou na
cátedra da pestilência”, como as aves que se postam para a rapina. Aí tendes
perfeitamente o que se refere à comida.
Moisés, porém, disse: “Comei de
todo animal que tem o casco fendido e que rumina.” O que ele quer dizer? Que
(tal animal), quando recebe a comida, conhece aquele que o alimenta, e quando
repousa, parece que se alegra com ele. Disse-o bem, considerando o mandamento.
Que quer ele dizer? Vinculai-vos àqueles que temem o Senhor, que meditam no
coração sobre o sentido exato da palavra que receberam, que ensinam e observam
as decisões do Senhor, que sabem que a meditação é alegre exercício e que
ruminam a palavra do Senhor. O que significa o “casco fendido”? É que o justo
caminha neste mundo e espera o mundo santo. Vede como Moisés legislou bem! Mas,
para eles, como é possível compreenderem ou entenderem essas coisas? Nós, tendo
compreendido exatamente os mandamentos, os exprimimos como o Senhor desejou.
Por isso, ele circuncidou nossos ouvi dos e nossos corações, para compreendermos
essas coisas.
11 Pesquisemos se o Senhor teve intenção de falar antecipadamente
sobre a água e sobre a cruz. Quanto à água, está escrito que Israel não teria
recebido o batismo que leva à remissão dos pecados, mas que eles próprios
teriam constituído um. Com efeito, diz o profeta: “Pasma, ó céu, e que a terra
trema ainda mais! Pois este povo cometeu mal duplo: eles me abandonaram, a mim
que sou a fonte viva da água, e cavaram para si mesmos uma cisterna de morte.
Por acaso, o Sinai, minha montanha santa, é rocha deserta? Vós sereis como os
passarinhos que voam, quando se lhes tira o ninho.” E o profeta diz ainda: “Eu
marcharei à tua frente, aplainarei as montanhas, quebrarei as portas de bronze,
despedaçarei as trancas de ferro, e te darei tesouros secretos, escondidos,
invisíveis, a fim de que saibam que eu sou o Senhor Deus. Tu habitarás numa
caverna alta de rocha sólida, onde a água não falta nunca. Vereis o rei em sua
glória e vossa alma meditará no temor do Senhor.”
Ele diz ainda por meio de outro profeta:
“Quem assim age, será como a árvore plantada junto à corrente d’água, e que dá
seu fruto no tempo certo. Sua folhagem não cairá; e tudo o que ele fizer terá
sucesso. Não são assim os ímpios, não são assim. Eles são, antes, como a poeira
que o vento espalha na face da terra. E por isso que os ímpios não se
levantarão no julgamento, nem os pecadores no conselho dos justos. Pois o
Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá.” Notai
que ele designa ao mesmo tempo a água e a cruz. Com efeito, ele quer dizer:
“Felizes aqueles que, tendo lançado sua esperança na cruz, desceram para a
água.
Pois ele diz que o salário vem
“no tempo certo”. Então, diz ele, eu retribuirei. Mas para hoje, ele diz: “Sua
folhagem não cairá.” Isso significa que toda palavra de fé e amor que sair da
vossa boca será para muitos causa de conversão e de esperança. E outro profeta
diz ainda: “E a terra de Jacó era celebrada mais do que qualquer outra terra.”
Isso quer dizer que ele glorifica o vaso do seu Espírito. O que diz ele a
seguir? “Havia um rio que corria, vindo da direita, e árvores esplêndidas
hauriam dele seu crescimento. Qualquer pessoa que delas comer, viverá
eternamente.” Isso significa que descemos para a água carregados de pecados e
poluição, mas subimos dela para dar frutos em nosso coração, tendo no Espírito
o temor e a esperança em Jesus. “Quem comer deles viverá eternamente”, quer
dizer: quem escutar, quando tais palavras são ditas, e crer nelas, viverá
eternamente.
12 Da mesma forma, é sobre a cruz que ele fala por meio de outro
profeta: “Quando tais coisas se cumprirão? Diz o Senhor: Quando um madeiro for
estendido no chão e depois novamente levantado, e quando o sangue gotejar do
madeiro.” Eis que se fala de novo da cruz e daquele que seria crucificado. Ele
ainda fala a Moisés, quando Israel é atacado pelos povos estrangeiros, para
lembrar-lhes, nesse combate, que era pelos pecados deles que estavam sendo
entregues à morte. Falando ao coração de Moisés, o Espírito lhe fez representar
a figura da cruz e de quem sofreria, pois, diz ele, se não esperarem nele,
serão eternamente atacados. Então Moisés amontoou as armas no meio do combate
e, de pé, no lugar mais alto de todos, estendeu os braços, e assim Israel
venceu novamente.
Em seguida, cada vez. que os
abaixava, os israelitas sucumbiam outra vez. Por quê? Para que soubessem que
não podiam ser salvos, se não confiassem nele. Por meio de outro profeta, ele
diz ainda: “O dia inteiro estendi meus braços para um povo desobediente e que
se opõe ao meu justo caminho.” Outra vez ainda, no momento em que Israel
sucumbia, Moisés fez prefiguração de Jesus, mostrando que ele devia sofrer, e
justamente aquele que acreditavam estar morto na cruz, haveria de dar a vida.
De fato, o Senhor fez com que todo tipo de serpentes os mordessem, e eles
morriam, embora a serpente tenha sido para Eva o instrumento da desobediência.
Ele queria assim convencê-los de
que era por causa da desobediência deles que seriam entregues à tortura da
morte. Finalmente, o próprio Moisés tinha ordenado: “Não tereis, como vosso
deus, nenhuma imagem fundida ou esculpida.” Mas ele próprio fez uma serpente de
bronze, colocou-a diante de todos, e convocou o povo. Quando se reuniram
naquele lugar, suplicaram a Moisés que intercedesse pela cura deles. Moisés
porém, lhes respondeu: “Quando alguém de vós for mordido, venha até à serpente
fixada ao madeiro e creia com confiança. Crendo que essa serpente, embora
morta, possa dar a vida, no mesmo instante será salvo.” Assim fizeram eles. Eis
aqui de novo a glória de Jesus, porque tudo está nele e tudo é para ele.
Que diz ainda Moisés a respeito
do profeta Jesus, filho de Nave, dando-lhe esse nome, somente para que todo o
povo ouvisse que o Pai revela todas as coisas em torno de seu Filho Jesus? Enviando-o
para explorar o país, depois de lhe ter dado esse nome, Moisés disse a Jesus,
filho de Nave: “Toma em tuas mãos um livro e escreve o que diz o Senhor: Nos
últimos dias, o Filho de Deus arrancará pelas raízes a casa de Amalec.” Mais
uma vez, eis que Jesus, manifestado em prefiguração carnal, não filho de homem,
mas Filho de Deus. Porque diriam que o Cristo é filho de Davi, o próprio Davi,
temendo e prevendo o erro dos pecadores, profetiza: “Disse o Senhor ao meu
Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos como
estrado para teus pés.” Isaías também diz: “O Senhor disse ao Cristo, meu
Senhor: Eu o tomei pela mão direita, para que as nações lhe obedeçam, e eu
romperei a força dos reis.” Vede como Davi o chama Senhor, e não filho!
13 Vejamos agora qual é o povo que recebe a herança. Se este, ou se
o primeiro. E a Aliança, é para nós, ou para aqueles? Escutai, então, o que diz
a Escritura a respeito do povo: “Isaac rezava pela sua mulher Rebeca, que era
estéril, e ela concebeu”. Depois: “Rebeca saiu para consultar o Senhor, e o
Senhor lhe disse: Há duas nações em teu seio e dois povos em tuas entranhas. Um
povo dominará o outro, e o mais velho servirá ao mais jovem.” Deveis
compreender quem é Isaac e quem é Rebeca, e a quem se referia ao mostrar que
este povo é maior do que aquele. Em outra profecia, Jacó se dirige mais
claramente ainda a seu filho José, dizendo: “Eis que o Senhor não me privou de
tua presença. Traze-me teus filhos, para que eu os abençoe.” Ele levou Efraim e
Manasses, querendo que Manassés, o mais velho, recebesse a bênção. José o
conduziu para a mão direita de seu pai Jacó.
No entanto, Jacó viu em espírito
a prefiguração do povo futuro. E o que disse ele? “E Jacó cruzou as mãos, e
colocou a direita sobre a cabeça de Efraim, o segundo e o mais novo, e o
abençoou. Então José disse a Jacó: ?Desvia tua mão direita e colocaa sobre a
cabeça de Manassés, pois ele é o meu filho primogénito’. Então Jacó disse a
José: ?Eu sei, meu filho, eu sei. O mais velho servirá ao mais jovem, e é este
que será abençoado.’” Vede a quem ele se referia ao decidir que este povo seria
o primeiro e o herdeiro da Aliança. Se isso ainda nos é lembrado no caso de
Abraão, então nosso conhecimento torna-se completo. O que é que ele diz então a
Abraão, pelo fato de que somente ele tinha acreditado, e foi estabelecido na
justiça? “Abraão, eis que eu te estabeleci como pai de nações que, embora
incircuncisas, acreditam em Deus.”
14 Muito bem. Porém vejamos: Pesquisemos, para ver se ele deu ao
povo a Aliança que prometera - juramento a seus antepassados. Certamente ele a
deu, mas eles não foram dignos de recebê-la, por causa de seus pecados. De
fato, o profeta diz: “Moisés jejuou quarenta dias e quarenta noites no monte
Sinai, para receber a Aliança do Senhor com o povo. E Moisés recebeu do Senhor
as duas tábuas escritas em espírito pelo dedo da mão do Senhor. Moisés as
tomou, e começou a descer, para levá-las ao povo. Então disse a Moisés o
Senhor: `Moisés, Moisés, apressa-te a descer, pois teu povo, que fizeste sair
da terra do Egito, pecou.’ Moisés compreendeu que eles ainda tinham feito para
si imagens de metal fundido. Então ele atirou de suas mãos as tábuas, e as
tábuas da Aliança do Senhor se quebraram.”
Moisés, portanto, a recebeu, mas
eles não foram dignos dela. Aprendei como nós a recebemos. Moisés a recebeu
como servo, mas o próprio Senhor, depois de sofrer por nós, no-la entregou como
povo da herança. Ele apareceu, para que aqueles levassem ao máximo a medida dos
pecados e nós recebêssemos a Aliança mediante o Senhor Jesus, o herdeiro. Jesus
foi preparado por ocasião de sua manifestação, para libertar das trevas nossos
corações já consumidos pela morte e entregues aos desvios da iniqüidade, e para
estabelecer conosco uma Aliança com a palavra. De fato, está escrito que o Pai
lhe ordenou libertar-nos das trevas, a fim de preparar para si um povo santo.
Diz, portanto, o profeta: “Eu, o
Senhor teu Deus, te chamei na justiça, e te tomarei pela mão e te fortificarei.
Eu te coloquei como Aliança de um povo, como luz das nações, para abrir os
olhos dos cegos, para libertar das cadeias os prisioneiros e da prisão aqueles
que estão nas trevas.” Sabei, portanto, de onde fomos libertos! O profeta diz
ainda: “Eis que eu te coloquei como luz das nações, a fim de que sirvas para a
salvação, até os confins da terra. Assim diz o Senhor, o Deus que te libertou.”
E o profeta diz ainda: “O Espírito do Senhor está sobre mim e, por isso, me
ungiu para anunciar aos pobres o evangelho da graça. Ele me enviou para curar os
corações quebrantados, para proclamar aos prisioneiros a liberdade e aos cegos
a vista, para anunciar o ano favorável do Senhor e o dia da retribuição, para
consolar todos os que choram.”
15 Ainda, sobre o sábado, está escrito no Decálogo que Deus o entregou
pessoalmente a Moisés sobre o monte Sinai: “Santificai o sábado do Senhor com
mãos puras e coração puro.” Em outro lugar, ele diz: “Se meus filhos guardarem
o sábado, então estenderei sobre eles a minha misericórdia.” Ele menciona o
sábado no princípio da criação: “Em seis dias, Deus fez as obras de suas mãos e
as terminou no sétimo dia, e nele descansou e o santificou.” Prestai atenção,
filhos, sobre o que significa: “terminou no sétimo dia”. Isso significa que o
Senhor consumará o universo em seis mil anos, pois um dia para ele significa
mil anos. Ele próprio o atesta, dizendo: “Eis que um dia do Senhor será como
mil anos.”
Portanto, filhos, em “seis
dias”, que são seis mil anos, o universo será consumado. “E ele descansou no
sétimo dia.” Isso quer dizer que seu Filho, quando vier para pôr fim ao tempo
do Iníquo, para julgar os ímpios e mudar o sol, a lua e as estrelas, então ele,
de fato, repousará no sétimo dia. Por fim, ele diz: “Tu o santificarás com mãos
puras e coração puro.” Contudo, se alguém atualmente pudesse santificar, de
coração puro, esse dia que Deus santificou, então nós nos teríamos enganado
completamente. Porém, se este agora não é o caso, ele o santificará
verdadeiramente no repouso, quando nós mesmos, tendo recebido a promessa, com a
maldade não mais existindo, e tendo todas as coisas sido feitas novas pelo
Senhor, seremos capazes de administrar a justiça. Então, poderemos
santificá-lo, tendo sido primeiro nós mesmos santificados. Ele finalmente lhes
disse: “Não suporto vossas neomênias e vossos sábados”. Vede como ele diz: não
são os sábados atuais que me agradam, mas aquele que eu fiz e no qual, depois
de ter levado todas as coisas ao repouso, farei o início do oitavo dia, isto é,
o começo de outro mundo. Eis por que celebramos como festa alegre o oitavo dia,
no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos
céus.
16 No que se refere ao templo, eu vos direi ainda como esses
infelizes extraviados puseram sua esperança num edifício, como se fosse a casa
de Deus, e não no Deus deles, que os criou. Com efeito, quase como os pagãos,
eles o consagraram no templo. Mas, como fala o Senhor, abolindo-o? Aprendei:
“Quem mediu o céu com o palmo e a terra com a mão? Não fui eu? diz o Senhor: O
céu é o meu trono e a terra é o estrado dos meus pés. Que casa construireis
para mim, ou qual será o lugar do meu repouso?” Vede como era vã a esperança
deles. Por fim, ele diz ainda: “Eis! aqueles que destruíram esse templo, eles
mesmos o edificarão.” E o que está acontecendo. De fato, por causa da guerra
deles, o templo foi destruído pelos inimigos. E agora, os mesmos servos dos
inimigos o reconstruirão.
Ele tinha igualmente revelado
que a cidade, o templo e o povo de Israel seriam entregues. Com efeito, a
Escritura diz: “Acontecerá no fim dos dias que o Senhor entregará à destruição
as ovelhas do pasto, o aprisco e a sua torre.” E aconteceu conforme o Senhor
tinha dito. Indaguemos se existe um templo de Deus. Sim, existe onde ele mesmo
diz que o há de construir e aperfeiçoar. De fato, está escrito: “Quando a
semana estiver terminada, será construído um templo de Deus, com esplendor,
sobre o nome do Senhor.” Acho pois que existe um templo. E como ele “será
construído sobre o nome do Senhor”? Aprendei: antes que acreditássemos em Deus,
nossos corações eram uma habitação corruptível e frágil, exatamente como um
templo construído por mão humana. Com efeito, estava cheio de idolatria e era
casa de demônios pois todas as nossas ações se opunham a Deus.
Contudo, “ele será construído
sobre o nome do Senhor.” Estai atentos, para que o templo do Senhor seja
construído “com esplendor”. De que modo? Aprendei: recebendo o perdão dos
pecados e pondo nossa esperança no Nome, nós nos tornamos novos, recriados
desde o princípio. É por isso que Deus habita verdadeiramente em nós,
tornando-nos sua morada. Como? Pela sua palavra de fé, pelo chamado da sua
promessa, pela sabedoria das suas leis, pelos mandamentos da doutrina, e ele
próprio profetizando em nós, habitando em nós, abrindo para nós a porta do
templo, que é a nossa boca, e dando-nos o arrependimento, ele nos introduz no
templo incorruptível.
De fato, quem deseja ser salvo
não olha para o homem, mas para aquele que habita nele e fala por meio dele,
maravilhado “Neomênias” é o primeiro dia do mês (lunar), a “lua nova” ou
“neomênia”, era uma festa celebrada tanto entre os israelitas como entre os
cananeus (cf. Lv 23,24; 1Sm 20,5.24; Is 13; Am 8,5). Como o sábado, a lua nova
(neoménia) interrompia as transações comerciais. de não ter ouvido as palavras
daquele que fala através de uma boca humana, nem de ter desejado ouvi-Ias. Esse
é o templo espiritual construído pelo Senhor.
17 Eu vos expliquei essas coisas com a maior simplicidade possível,
e espero não ter deixado nada de lado. Com efeito, se vos escrevesse sobre o
presente ou o futuro, não compreenderíeis, pois isso permanece em parábolas.
18 Sobre esse assunto, chega. Passemos para outro tipo de
conhecimento e ensinamento. Existem dois caminhos de ensinamento e autoridade:
o da luz e o das trevas. A diferença entre os dois é grande. De fato, sobre um
estão postados os anjos de Deus, portadores da luz; e sobre o outro, os anjos
de satanás. Um é Senhor de eternidade em eternidade, o outro é príncipe do
presente tempo da iniqüidade.
19 Este é o caminho da luz: se alguém quer andar no caminho e
chegar ao lugar determinado, que se esforce em suas obras. Eis, portanto, o
conhecimento que nos foi dado para andar nesse caminho. Ama aquele que te
criou. Teme aquele que te formou. Glorifica aquele que te resgatou da morte. Sê
simples de coração e rico de espírito. Não te ligues àqueles que andam no
caminho da morte. Odeia tudo o que não é agradável a Deus. Odeia toda
hipocrisia. Não abandones os mandamentos do Senhor. Não te engrandeças a ti
mesmo, mas sê humilde em todas as circunstâncias. Não te arrogues glória. Não
planejes o mal contra o teu próximo. Não te entregues à insolência.
Não pratiques a prostituição,
nem o adultério, nem a pederastia. Não divulgues a palavra de Deus entre
pessoas impuras. Não faças diferença entre as pessoas, ao corrigir alguém por
sua falta. Sê manso, tranqüilo, respeitando as palavras que ouviste. Não sejas
vingativo para com teu irmão. Não fiques hesitando sobre o que vai ou não
acontecer. Não tomes em vão o nome do Senhor. Ama o teu próximo mais do que a
ti mesmo. Não mates a criança no seio da mãe, nem logo que ela tiver nascido.
Não te descuides de teu filho ou de tua filha. Pelo contrário, dá-lhes
instrução desde a infância no temor do Senhor. Não cobices os bens do teu
próximo. Não sejas avarento, não te juntes de coração com os grandes, mas
conversa com os justos e pobres. Aceita como boas as coisas que te acontecem,
sabendo que nada acontece sem o consentimento de Deus.
Não sejas dúplice no pensar e no
falar, porque a duplicidade é armadilha mortal. Sê submisso a teus senhores,
com respeito e reverência, como à imagem de Deus. Não dês ordens com rudeza ao
teu servo ou à tua serva, pois eles esperam no mesmo Deus que tu, para que não
percam o temor de Deus, que está acima de uns e de outros; com efeito, ele não
vem chamar a pessoa pela aparência, mas aqueles que o Espírito preparou. Compartilha
tudo com o teu próximo, e não digas que são coisas tuas. Se estais unidos nas
coisas incorruptíveis, tanto mais nas coisas corruptíveis. Não sejas loquaz,
porque a boca é armadilha mortal. O quanto podes, sê puro com a tua alma.
Não sejas como os que estendem a
mão na hora de receber, e a retiram na hora de dar. Ama, como a pupila do teu
olho, todo aquele que te anuncia a palavra de Deus. Lembra-te noite e dia, do
dia do julgamento. A cada dia, procura a companhia dos santos. Empenha-te com a
pregação, exortando e preocupando-te em salvar uma alma pela palavra, ou então
em trabalhar com tuas mãos, para resgatar teus pecados. Não hesites em dar, nem
dês reclamando, pois sabes quem é o verdadeiro remunerador da tua recompensa.
Guarda o que recebeste, sem nada acrescentar ou tirar. Odeia totalmente o mal.
Julga de modo justo. Não provoques divisão. Pelo contrário, reconcilia aqueles
que brigam entre si. Confessa os teus pecados. Não te apresentes em má
consciência para a oração.
20 O caminho da treva é tortuoso e cheio de maldições. De fato, em
sua totalidade, ele é o caminho da morte eterna com punição. Nele se encontram
as coisas que destroem sua alma: idolatria, insolência, altivez do poder,
hipocrisia, duplicidade de coração, adultério, homicídio, rapina, orgulho,
transgressão, fraude, maldade, arrogância, feitiçaria, magia, avareza e
ausência do temor de Deus. (São) os que perseguem os bons, odeiam a verdade,
amam a mentira, ignoram a recompensa da justiça, não se ligam ao bem nem ao
julgamento justo, não cuidam da viúva e do órfão, não vigiam para o temor de
Deus, mas para o mal, afastam-se da mansidão e da paciência, amam as vaidades,
correm atrás da recompensa, não têm misericórdia para com o pobre, recusam
ajudar o oprimido, difamam facilmente, ignoram o seu Criador, matam crianças,
corrompem a imagem de Deus, não se compadecem do necessitado, não se importam
com os atribulados, defendem os ricos, são juízes injustos com os pobres, e,
por fim, são pecadores consumados.
21 É bom, portanto, aprender as sentenças do Senhor, que estão
escritas, e a elas conformar o comportamento. Com efeito, aquele que as pratica
será glorificado no Reino de Deus, mas aquele que escolher o outro (Caminho)
perecerá com suas obras. Por isso, existe ressurreição, e por isso existe
retribuição. A vós, que sois superiores, peço que aceitem um conselho da minha
benevolência: Tendes no meio de vós pessoas para com as quais praticar o bem.
Não deixem de o fazer. Está próximo o dia, no qual todas as coisas perecerão
com o Maligno. Está próximo o Senhor, justo com a sua retribuição. Peço-vos
ainda: sede bons legisladores para vós mesmos, permanecei fiéis conselheiros
para vós mesmos, afastai de vós toda hipocrisia.
O Deus, que reina sobre o mundo
inteiro, vos dê sabedoria, inteligência, ciência, conhecimento de suas
decisões, e perseverança. Deixai-vos instruir por Deus, procurando o que o
Senhor quer de vós, e praticai-o, para que vos encontreis no dia do julgamento.
Se vos recordais do bem, lembrai-vos de mim ao meditar sobre essas coisas.
Desse modo, meu desejo e minha vigilância levarão a realizar algum bem.
Peço-vos com insistência, como uma graça: enquanto o belo vaso ainda está
convosco, não negligencieis nada das vossas coisas, mas buscai-as
constantemente e cumpri todos os mandamentos, pois eles são dignos. Eis por que
me esforcei em vos escrever, segundo minhas possibilidades. Eu vos saúdo,
filhos do amor e da paz. Que o Senhor da glória e de toda graça esteja com
vosso espírito.
- Siga-me no Facebook para estar por dentro das atualizações!
0 comentários:
Postar um comentário
ATENÇÃO: novos comentários estão desativados para este blog, mas você pode postar seu comentário em qualquer artigo do meu novo blog: www.lucasbanzoli.com
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.