Pergunta:
Por que será que os pentecostais
têm tanta dificuldade de assumir que Maria é mãe de Deus? Minha hipótese é que
se trata de um medo e um preconceito: preconceito porque eles acham que quem
criou essa ideia foi a Igreja Romana, mas na verdade a Igreja Romana nem
existia no Concílio de Éfeso. E medo porque eles não entendem o que significa a
maternidade divina. Eles pensam que quando alguém fala que Maria é mãe de Deus
está querendo dizer que Maria criou o Deus Filho dentro de seu ventre, mas na
verdade “mãe de Deus” é apenas um título de honra a Maria por ter o privilégio
de carregar o Verbo dentro de seu ventre. E o que você acha disso? (Gabriel, 24/12/2020)
Resposta:
Não é preconceito algum, é
simplesmente prudência em não querer se meter em mistérios relativos à
divindade que só causam complicações filosóficas se forem racionalizados. Pela
mesma lógica na qual “Maria é mãe de Deus” por Jesus ser Deus, poderíamos dizer
também que “Deus morreu na cruz” (porque Jesus é Deus e Jesus morreu na cruz),
mas isso soa blasfêmico, porque Deus por natureza não pode morrer (1Tm 6:16),
assim como soa blasfêmico afirmar que Deus tem mãe (quando Deus é um ser
incriado e não-gerado por ninguém).
E se alguém disser que Deus não
morreu na cruz porque foi só a parte humana de Jesus que morreu, o mesmo
poderia ser dito quanto a Maria não ser mãe de Deus, por só ter tido parte na
geração da natureza humana de Jesus. Por isso é muito mais prudente e sensato
chamar Maria de mãe de Jesus do que mãe de Deus, evitando não apenas uma
idolatria oriunda de um título duvidoso, mas a obscuridade envolvendo toda a
questão. Vale lembrar que o mesmo silogismo usado para dizer que Maria é mãe de
Deus por ser mãe de Jesus também poderia ser tranquilamente usado com a mesma lógica
para concluir o oposto, já que ela não é mãe nem do Pai e nem do Espírito Santo
(que são Deus).
Isso nos colocaria num paradoxo,
onde o silogismo que nos leva a concluir que se (1) Jesus é Deus e (2) Maria é
mãe de Jesus, logo (3) Maria é mãe de Deus, é o mesmo que nos levaria a
concluir o oposto, uma vez que (1) o Espírito Santo é Deus e (2) Maria não é
mãe do Espírito Santo, e, da mesma forma, (1) o Pai é Deus e (2) Maria não é
mãe do Pai, o que implicaria que (3) Maria não é mãe de Deus. Devido a esse
terreno perigoso da racionalização de um conceito espiritual tão difícil de ser
humanamente compreendido quanto a própria trindade, é muito mais sensato deixar
esses títulos duvidosos de lado, ainda mais quando o seu mal entendimento leva
tanta gente à idolatria.
As pessoas não sabem nem
explicar direito como funciona a trindade ou a união hipostática (o mais comum
é assumir que se trata de um mistério que nos é oculto), mas querem concluir de
boca cheia algo que depende fundamentalmente de uma compreensão precisa desses
conceitos, algo que eles passam longe de ter.
• Leia mais sobre isso no
artigo: Deus
tem mãe?
*Trecho extraído de meu livro "200 Respostas sobre Fé, Política, História e Teologia" (lançamento em breve).
Por Cristo e por Seu Reino,
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