12 de outubro de 2015

Comentários de Atos 2

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1 E ao se cumprir o dia de Pentecostes, estavam todos concordando no mesmo lugar.
2 E de repente houve um ruído do céu, como de um vento forte [e] violento, e encheu toda a casa onde eles estavam sentados.
3 E foram vistas por eles línguas repartidas como que de fogo, e se pôs sobre cada um deles.
4 E eles foram todos cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes dava a discursarem.
5 E havia judeus que estavam morando em Jerusalém, homens devotos, de toda nação abaixo do céu.
6 E acontecendo esta voz, ajuntou-se a multidão; e ela estava confusa, porque cada um os ouvia falar em sua própria língua.
7 E todos estavam admirados, e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Ora, estes que estão falando, não são todos eles galileus?
8 E como nós ouvimos cada um [deles] em nossa própria língua, na qual nascemos?
9 Partos, Medos, Elamitas, os habitantes da Mesopotâmia, da Judeia, Capadócia, Ponto, Ásia,
10 Frígia, Panfília, Egito e regiões da Líbia perto de Cirene, e romanos estrangeiros, tanto judeus como prosélitos,
11 Cretenses e Árabes, os ouvimos em nossas próprias línguas eles falarem das grandezas de Deus.
12 E todos estavam admirados e confusos, dizendo uns aos outros: O que isso quer dizer?
13 E outros, ridicularizando, diziam: Eles estão cheios de vinho doce.
14 Mas Pedro, pondo-se de pé com os onze, levantou sua voz, e lhes falou: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja isto conhecido, e ouvi minhas palavras:
15 Porque estes não estão bêbados, como vós pensais, sendo [ainda] a terceira hora do dia.
16 Mas isto é o que foi dito por meio do profeta Joel:
17 E será nos últimos dias, diz Deus, que: Eu derramarei do meu Espírito sobre toda carne, e vossos filhos e filhas profetizarão, e vossos rapazes terão visões, e vossos velhos sonharão sonhos;
18 E também sobre meus servos e sobre minhas servas, naqueles dias eu derramarei do meu Espírito, e profetizarão.
19 E darei milagres acima no céu, e sinais abaixo na terra; sangue, fogo, e vapor de fumaça;
20 O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e notório dia do Senhor.
21 E será que todo aquele que chamar ao nome do Senhor será salvo.
22 Homens israelitas, ouvi estas palavras: Jesus o nazareno, homem aprovado por Deus entre vós, com maravilhas, milagres e sinais, que Deus fez por meio dele no meio de vós, assim como vós mesmos também sabeis;
23 Este, sendo entregue pelo determinado conselho e conhecimento prévio de Deus, sendo tomando, pelas mãos de injustos [o] crucificastes e matastes;
24 Ao qual Deus ressuscitou, tendo soltado as dores da morte; porque não era possível ele ser retido por ela;
25 Porque Davi diz sobre ele: Eu sempre via ao Senhor diante de mim, porque ele está à minha direita, para que eu não seja abalado.
26 Por isso meu coração está contente, e minha língua se alegra, e até mesmo minha carne repousará em esperança.
27 Pois tu não abandonarás minha alma no mundo dos mortos, nem entregarás a teu santo, para que veja corrupção.
28 Tu tens me feito conhecer os caminhos da vida; tu me encherás de alegria com tua face.
29 Homens irmãos, é lícito eu vos dizer abertamente sobre o patriarca Davi, que morreu, e foi sepultado, e a sepultura dele está conosco até o dia de hoje.
30 Portanto, sendo ele profeta, e sabendo que Deus tinha lhe prometido com juramento que, da sua descendência segundo a carne, levantaria ao Cristo para se sentar no seu trono;
31 Vendo [-o] com antecedência, falou da ressurreição do Cristo, que a alma dele não foi abandonada no mundo dos mortos, nem a carne dele viu corrupção.
32 A este Jesus Deus ressuscitou; do qual todos nós somos testemunhas.
33 Portanto, tendo sido exaltado à direita de Deus, e recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que agora estais vendo e ouvindo.
34 Porque Davi não subiu aos céus; mas sim, ele diz: Disse o Senhor a meu Senhor: Senta-te à minha direita,
35 Até que eu ponha teus inimigos por escabelo de teus pés.
36 Saiba então com certeza toda a casa de Israel, que Deus o fez Senhor e Cristo a este Jesus, que vós crucificastes.
37 E eles, ao ouvirem [estas coisas] , foram afligidos como que perfurados de coração, e disseram a Pedro, e aos outros apóstolos: Que faremos, homens irmãos?
38 E Pedro lhes disse: Arrependei-vos, e batize-se cada um de vós no nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e vós recebereis o dom do Espírito Santo.
39 Porque a promessa é para vós, e para vossos filhos, e para todos que [ainda] estão longe, a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar.
40 E com muitas outras palavras ele dava testemunho, e exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa!
41 Então os que receberam a palavra dele de boa vontade foram batizados; e foram adicionados naquele dia quase três mil almas.
42 E eles perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão, e nas orações.
43 E houve temor em toda alma; e muitos milagres e sinais foram feitos pelos apóstolos.
44 E todos os que criam estavam juntos, e tinham todas as coisas em comum.
45 E eles vendiam [suas] propriedades e bens, e as repartiam com todos, conforme a necessidade que cada um tinha.
46 E perseverando a cada dia em concordância no Templo, e partindo o pão de casa em casa, comiam juntos com alegria e sinceridade de coração.
47 Louvando a Deus, e tendo graça, [sendo do agrado] de todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à igreja aqueles que estavam sendo salvos.




2.4 começaram a falar em outras línguas. Há grande debate sobre se essas línguas eram línguas terrenas entendíveis ou celestiais ininteligíveis. O que se sabe é que os apóstolos começaram a falar em línguas, e cada pessoa de fora ouvia em seu próprio idioma (v.8). Duas interpretações tem sido dadas. A primeira (tradicional) é que cada apóstolo falava em uma língua idiomática diferente, e por essa razão as pessoas de diferentes nacionalidades escutavam alguém falando em seu próprio idioma. A segunda (pentecostal) é que os apóstolos falavam em línguas ininteligíveis (estranhas), mas que de modo sobrenatural o Espírito Santo fez com que nesta ocasião específica cada ouvinte ouvisse como se todos estivessem falando em sua própria língua materna. Essa segunda interpretação é reforçada pelos seguintes quesitos: (a) se cada um estivesse falando em uma língua natural diferente ao mesmo tempo, e se fosse esta língua natural que os descrentes estivessem ouvindo, então dificilmente cada estrangeiro iria entender o que estava sendo dito, já que seria tudo uma grande confusão; (b) o texto não passa a ideia de que cada um falava um idioma terreno diferente, mas sim que todos os apóstolos eram ouvidos no idioma da língua de quem ouvia. Isso fica claro pela expressão "cada um deles", no verso 8, que passa nitidamente a ideia de que quem ouvia de fora entendia que cada um dos apóstolos falava na língua em que o estrangeiro ouvia, e não que cada um deles falava em um idioma diferente e que por coincidência um desses idiomas era o daquele que ouvia um apóstolo em especial. O verso 6 também passa essa noção, ao dizer que "cada um os [no plural] ouvia falar em sua própria língua", e não que alguém falava em sua própria língua. O mais provável, portanto, é que os apóstolos estavam falando em línguas estranhas e que Deus fez com que as pessoas de fora ouvissem como se todos estivessem falando no idioma deles, isto é, de quem ouvia. Para ler mais sobre o dom de línguas, veja os comentários ao capítulo 14 de 1Co.

2.13 cheios de vinho doce. NVI: "beberam vinho demais", i.e, que estavam "bêbados", embora estivessem sãos. Às vezes, manifestações do Espírito Santo parecem absurdas demais para os de fora, de maneira que parece que a pessoa não está sã, e se torna alvo de ridicularização. No entanto, isso não é justificativa para ir ao extremo oposto, onde o local de culto se torna uma completa desordem e baderna, na contramão do que Paulo prescreve em 1Co.14:40 (v. nota). O culto cristão deve dar liberdade ao agir do Espírito Santo em vez de se centrar em uma liturgia rígida e monótona onde os seres ali presentes só podem observar e repetir frases prontas, mas também não deve desbancar para o outro extremo, onde "tudo é permitido".

2.15 terceira hora do dia. O equivalente às "nove horas da manhã" (NVI).

2.17 nos últimos dias. É interessante observar que Pedro aplica a profecia de Joel quanto aos "últimos dias" para o seu próprio tempo. Na perspectiva cristã, o mundo presente está dividido em duas eras: o antigo pacto (aliança) e o novo pacto (aliança); a era de Israel e a era da Igreja; o tempo para a primeira vinda e o tempo para a segunda vinda. É como se a história do mundo presente se dividisse em dois tempos: o primeiro, que culminou na morte e ressurreição de Cristo, e o segundo, que se consumará na volta de Jesus. Portanto, todos aqueles que estavam vivos a partir da ressurreição de Cristo já faziam parte do "segundo tempo", que é o último tempo. Essa é a razão pela qual por vezes o termo "últimos dias" ou "último tempo" é aplicado ao início daquela segunda era (At.2:17; Tg.5:3; Hb.1:2), ainda que o final mesmo ainda esteja por vir. Em suma, embora tenhamos o costume de relacionar os "últimos dias" apenas aos eventos finais que estão por vir, a Bíblia compreende os "últimos dias" como sendo todo o período desde o início até o fim da segunda era; isto é, desde a ressurreição de Cristo até Sua volta gloriosa.

2.17 filhos e filhas profetizarão. Não apenas os "filhos", mas também as "filhas". A Bíblia é totalmente favorável ao ministério profético feminino (sobre este mesmo tema, v. nota em At.21:9 e em 1Co.11:5). Levando em consideração que os "últimos dias" compreendem um período que se estende até os dias atuais (2Tm.3:1), logicamente os sonhos, visões e profecias descritos no verso se aplicam ainda hoje.

2.20 grande e notório dia do Senhor. Refere-se em todo o NT ao dia da volta gloriosa de Jesus e da ressurreição dos mortos (1Co.5:5; 2Co.1:14; 1Ts.5:2; 2Ts.2:2; 2Pe.3:10).

2.21 todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. V. nota em Rm.10:13.

2.22 homem aprovado por Deus. V. nota em Mc.8:22-26. Deus fez por meio dele. Os milagres que Jesus realizava ele não realizava por seu próprio poder, mas pelo poder de Deus que atuava nele (Mt.9:8).

2.24 ao qual Deus ressuscitou. Jesus não "ressuscitou a si mesmo", como alguns dizem, mas foi ressuscitado pelo Pai. tendo soltado as dores da morte. O estado de "morte" na Bíblia não é visto como algo positivo, mas negativo. A morte não é uma amiga que nos leva ao Céu, mas o último inimigo a ser vencido (1Co.15:26), que ainda tem seu "aguilhão" até ser derrotado na ressurreição dos mortos (1Co.15:55-56). É a ressurreição que é a definitiva vitória sobre a morte, quando somos libertados do estado de morte e trazidos ao estado de vida. Uma vez que a ressurreição de Cristo é a garantia da nossa própria ressurreição (1Co.15:20), sua vitória sobre a morte é o que "nos livrou do medo da morte" (Hb.2:15), pois nos trouxe a garantia da nossa própria ressurreição para uma vida eterna (1Co.15:22-23).

2.27 mundo dos mortos. No grego, "Hades", o equivalente ao "Sheol" do hebraico. Sobre o significado do termo, v. nota em Lc.10:15. O sentido do texto é que a alma de Jesus não ficaria "abandonada" no Hades, porque Deus o ressuscitaria antes que ele entrasse em decomposição, e então lhe traria novamente à vida (v.28).

2.29 a sepultura dele está conosco até o dia de hoje. Como Davi ainda continuava morto na sepultura, então a ressurreição que ele havia dito no texto citado aqui por Pedro (Sl.16:10) não se referia a si próprio, mas era uma profecia messiânica, que se cumpriu, portanto, em Jesus.

2.30 para se sentar no seu trono. Cristo é chamado de o "filho de Davi" (v. nota em Mt.22:45), pois nele há o cumprimento de todas as promessas de Deus feitas a Davi e à sua descendência.

2.34 Davi não subiu aos céus. Declaração categórica que refuta a tese de que a alma de Davi já estava no Céu. O fato de Davi não estar no Céu é justamente o argumento de Pedro para o fato de que o estar à direita de Deus não se referia ao próprio Davi, mas ao Messias.

2.39 e para vossos filhos. No sentido de que a promessa do batismo não se limitava apenas àquela presente geração, mas também para os seus "filhos", i.e, os seus descendentes, por observância perpétua. Outra possibilidade provável é que a "promessa" aqui esteja ligada ao "dom do Espírito Santo", que é a última coisa ressaltada no verso anterior. Pedro fala no verso 38 de arrependimento, batismo e possessão do Espírito Santo, e as crianças pequenas e recém-nascidos em geral só se enquadram no terceiro caso, uma vez que não tem idade suficiente para se arrepender deliberadamente por pecados conscientes praticados, e por essa mesma razão não podem se batizar (v. nota em At.8:12).

2.42 perseveravam na doutrina dos apóstolos. O foco da perseverança na fé não estava na pessoa dos "apóstolos" em si, mas na doutrina ensinada pelos apóstolos. Semelhantemente, nos dias de hoje as igrejas verdadeiras não são necessariamente as que tem "sucessão apostólica", mas as que guardam as doutrinas que eram ensinadas pelos apóstolos. Os fariseus também criam ser sucessores de Moisés (Mt.23:2; Jo.9:28) e descendência de Abraão (Jo.8:39) em sentido natural, mas Jesus os repreendeu, pois tinham adicionado tradições extrabíblicas ao conteúdo puro e simples da Palavra de Deus, a Sagrada Escritura (v. notas em Mc.7:15, em Mt.15:2 e em Mt.15:9).

2.42 no partir do pão. Em alusão à eucaristia, a Ceia do Senhor.

2.44 tinham todas as coisas em comum. Não em um sentido comunista, onde a divisão de bens é forçada, sempre gerando miséria e genocídio por onde passa, mas de livre e espontânea vontade, sem qualquer tipo de coerção. Ademais, este sistema aqui vigente no início da igreja deixa de existir após a dispersão, que ocorreu pouco tempo mais tarde (At.8:1), e não volta a ser mencionado na Bíblia. O que os apóstolos praticavam não era comunismo, mas capitalismo com generosidade (em vez de uma forma de capitalismo onde ninguém ajuda ninguém).

2.46 no templo... e de casa em casa. O texto mostra que o problema não era o templo em si, como alguns fanáticos modernos asseveram, como se o fato de congregar em templos fosse em si mesmo algo imundo ou imoral. Se fosse, os discípulos não se reuniriam no templo enquanto ainda podiam fazer isso. Por outro lado, para evitar que caiamos no extremo oposto (onde todo o culto está limitado ao templo), o texto diz também que os discípulos cultuavam nas casas, que mais tarde passou a ser o único meio de reunião, quando o Cristianismo se tornou uma religião ilegal. O importante não é o local em que se cultua a Deus e que comumente é chamado de "igreja", mas sim o coração dos adoradores ali presentes, e a doutrina que está sendo ali ensinada. Se há adoradores em espírito e em verdade (Jo.4:24) compartilhando uma doutrina legitimamente evangélica (Fp.1:27), Deus estará ali presente (Mt.18:20), independentemente se estão se reunindo em um templo, ou em uma casa, ou ao ar livre, ou onde quer que seja. Limitar o agir de Deus para dentro de quatro paredes é justamente o que Paulo critica em At.17:24 (v. nota), e este erro é geralmente praticado tanto pelos adeptos da corrente do "somente templo", quanto pelos adeptos da corrente do "somente casa".

2.47 louvando a Deus. O louvor não era a Maria, nem a José, nem a João Batista, nem aos grandes patriarcas do passado que marcaram a história do AT, mas a um só: Deus. Qualquer louvor que tenha como alvo de glorificação uma outra pessoa que não seja Deus, ou como finalidade outra coisa que não a Sua glória, deve ser repudiado - seja ele um louvor mariólatra da cultura romanista, ou um louvor antropocêntrico da cultura gospel moderna.

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