11 de setembro de 2015

João Batista era a reencarnação de Elias?


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Este capítulo faz parte da obra: “Exegese de Textos Difíceis da Bíblia”, ainda em construção.
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Em Mateus 11:14, Jesus afirma aos seus discípulos sobre João Batista:

“E se vocês quiserem aceitar, este é o Elias que havia de vir” (Mateus 11:14)

Os espíritas ensinam, a partir deste texto, que João Batista era a reencarnação de Elias, e os evangélicos e católicos discordam.

Linha 1
Linha 2
João Batista era a reencarnação de Elias
João Batista era o cumprimento profético sobre Elias
Há várias razões pelas quais João Batista definitivamente não pode ter sido uma reencarnação de Elias. Em primeiro lugar, porque a Bíblia não diz que Elias morreu, mas que ele foi arrebatado ao Céu em um redemoinho:

“De repente, enquanto caminhavam e conversavam, apareceu um carro de fogo, puxado por cavalos de fogo, que os separou, e Elias foi levado aos céus num redemoinho” (2ª Reis 2:11)

O caso de Elias é bastante semelhante ao de Enoque (que vimos no capítulo 15 deste livro). Ele não passou pela morte, mas foi transladado vivo, de corpo e alma, para a presença de Deus. Levando em consideração que no espiritismo só há reencarnação para as pessoas que morreram, João Batista não pode ter sido Elias.

Em segundo lugar, foi o próprio João Batista que negou, clara e categoricamente, que ele fosse Elias:

“Esse foi o testemunho de João, quando os judeus de Jerusalém enviaram sacerdotes e levitas para lhe perguntarem quem ele era. Ele confessou e não negou; declarou abertamente: ‘Não sou o Cristo’. Perguntaram-lhe: ‘E então, quem é você? É Elias?’ Ele disse: ‘Não sou’. ‘É o Profeta?’ Ele respondeu: ‘Não’. Finalmente perguntaram: ‘Quem é você? Dê-nos uma resposta, para que a levemos àqueles que nos enviaram. Que diz você acerca de si próprio?’ João respondeu com as palavras do profeta Isaías: ‘Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Façam um caminho reto para o Senhor’” (João 1:19-23)

Aquelas pessoas estavam pensando que João Batista fosse Elias, mas o próprio João refutou tal alegação explicitamente, da forma mais óbvia possível – “Não sou”! Portanto, em qualquer sentido que Jesus tenha dito que João era Elias, certamente não era em termos literais, como se fosse a reencarnação do falecido profeta.

Em terceiro lugar, Elias apareceu pessoalmente no monte da transfiguração, na presença dos discípulos:

“Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago, e os levou, em particular, a um alto monte. Ali ele foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o sol, e suas roupas se tornaram brancas como a luz. Naquele mesmo momento apareceram diante deles Moisés e Elias, conversando com Jesus” (Mateus 17:1-3)

Isso mostra que Elias permanecia sendo Elias, e João permanecia sendo João. Ele não havia mudado de identidade e nem de autoconsciência.

Além disso, a Bíblia rejeita completamente a reencarnação. Ela diz categoricamente que ao homem está destinado morrer uma só vez (Hb.9:27), e é bastante sabido que ela ensina a ressurreição, que é o inverso de reencarnação. O maior capítulo das epístolas é justamente um capítulo inteiro para provar a ressurreição dos mortos (1ª Coríntios 15). Enquanto a ressurreição ensina que o corpo no sepulcro ressuscitará para a vida eterna ou para a condenação (Jo.5:28-29), a reencarnação caminha no sentido oposto, onde o “espírito” vai para o “mundo dos espíritos”, para depois de algum tempo voltar a se encarnar em um pedaço de carne chamado de corpo. Consequentemente, cada pessoa reencarna inúmeras vezes, em milhares de corpos diferentes. A ressurreição é simplesmente desprezada.

Mas se João Batista não era a reencarnação de Elias, então em que sentido Jesus disse que João era Elias? Lucas 1:17 tem a resposta:

“E irá adiante do Senhor, no espírito e no poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor” (Lucas 1:17)

Em outras palavras, João Batista era Elias no sentido de andar “no espírito e no poder de Elias”. Ele era um cumprimento profético e tipológico de Elias, e não uma reencarnação do antigo profeta. Se o escritor bíblico entendesse que João era literalmente o mesmo espírito que Elias, ele não teria dito que João andaria no espírito de Elias, mas sim com o espírito de Elias. Isso significa que João tinha o mesmo ímpeto que Elias, e não que ele fosse uma reencarnação de Elias. Logo depois que Elias foi arrebatado ao Céu, a Bíblia diz:

“Quando os discípulos dos profetas, vindos de Jericó, viram isso, disseram: ‘O espírito de Elias repousa sobre Eliseu’” (2ª Reis 2:15)

Isso obviamente não significa que Eliseu fosse a “reencarnação” de Elias, porque Elias não morreu e Eliseu já era adulto quando foi separado de Elias. Mesmo assim, é nos dito que o “espírito” de Elias repousava sobre Eliseu, no mesmo sentido em que é nos dito que João Batista andava “no espírito” de Elias. Logicamente, o espírito de Elias estava em Eliseu e em João Batista, não como uma reencarnação, mas como tendo o mesmo ímpeto ou vitalidade que o profeta tinha. Este, aliás, é um dos significados mais recorrentes da palavra “espírito” na Bíblia – a disposição interna de um indivíduo, sua capacidade mental e volitiva[1]. Isso significa que Eliseu e João Batista tinham a mesma disposição de Elias.

João Batista era ainda um cumprimento profético de Elias (Ml.4:5), pois ele veio com a mesma função de Elias. Tanto Elias quanto João prepararam o caminho para a chegada do Messias, o Salvador do mundo. João Batista pode ser considerado, portanto, como aquele que deu prosseguimento ao ministério profético de Elias. Ambos foram perseguidos por uma mulher (Mc.6:18-20; 1Rs.21:20) e por um rei (Mt.14:3-5; 1Rs.19:1-5); ambos usavam uma capa de pêlos (Mt.3:4; 1Rs.19:19); ambos eram intrépidos (Lc.3:7; 1Rs.18:27); ambos eram profetas (Lc.16:16; 1Rs.18:22). Portanto, à luz de todas as evidências bíblicas, podemos concluir que João era Elias no sentido de ser o cumprimento tipológico dele, que veio no mesmo ímpeto, para realizar a mesma função profética.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (www.lucasbanzoli.com)


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[1] Samuelle Bacchiocchi fez um brilhante trabalho sobre isso, disponível em: http://www.verdadeonline.net/textos/cap2-ivimortal.htm

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