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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1. E naqueles dias veio João Batista, pregando no deserto da Judeia,
2. E dizendo:
Arrependei-vos, porque perto está o Reino dos céus.
3. Porque este é aquele que foi declarado pelo profeta Isaías, que disse:
Voz do que clama no deserto:
Preparai o caminho do Senhor; endireitai suas veredas.
4. Este João tinha sua roupa de pelos de camelo e um cinto de couro ao redor de sua cintura, e seu alimento era gafanhotos e mel silvestre.
5. Então vinham até ele [moradores] de Jerusalém, de toda a Judeia, e de toda a região próxima do Jordão;
6. E eram por ele batizados no Jordão, confessando os seus pecados.
7. Mas quando ele viu muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham a seu batismo, disse-lhes:
Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira futura?
8. Dai, pois, frutos condizentes com o arrependimento.
9. E não imagineis, dizendo em vós mesmos: “Temos por pai a Abraão”, porque eu vos digo que até destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão.
10. E agora mesmo o machado está posto à raiz das árvores; portanto toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
11. Realmente eu vos batizo com água para arrependimento, mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; suas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
12. Ele tem sua pá na mão; limpará sua eira, e recolherá seu trigo no celeiro; mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga.
13. Então Jesus veio da Galileia ao Jordão até João para ser por ele batizado.
14. Mas João lhe impedia, dizendo:
Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?
15. Porém Jesus lhe respondeu:
Permite por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça.
Então ele o permitiu.
16. E tendo Jesus sido batizado, subiu logo da água. E eis que os céus se lhe abriram, e ele viu o Espírito de Deus descendo como um pomba, vindo sobre ele.
17. E eis uma voz dos céus, dizendo:
Este é o meu Filho amado, em quem me agrado.
3.2 arrependei-vos. Arrependimento vem da palavra grega metanoeo, que, diferentemente da crendice popular, não significa uma mera tristeza ou comoção em um momento específico, mas uma completa mudança de mente, que ocorre quando a pessoa decide abandonar os pecados anteriormente cometidos e passar a viver uma vida voltada a Deus. Este arrependimento sincero gera frutos (v.8), que é a mudança de vida que resulta em obras e santidade de nossa parte, quando passamos a lutar contra aquilo que antes praticávamos. É esta mudança que evidencia se o arrependimento foi verdadeiro ou se a mentalidade permanece a mesma que antes, o que seria um mero remorso, que é somente um sentimento de aflição ou tristeza, mas sem uma mudança de mentalidade e de vida posterior. O arrependimento verdadeiro é um precedente necessário à salvação (Lc.13:15).
3.6 confessando os seus pecados. A confissão pública dos pecados era um precedente necessário para o batismo de João. A pessoa primeiro confessava seus pecados, mostrando estar disposta a viver uma vida diferente dali em diante, e somente depois era imersa na água. Isso mostra que o batismo não era por si só suficiente para limpar os pecados, mas limpava os pecados quando a pessoa já havia se arrependido publicamente e decidido mudar de vida. A crença em um batismo purificador sem arrependimento interior é o que leva a enganos como o batismo infantil ou o batismo nos últimos dias de vida, como fez o imperador Constantino, que depois de assassinar seu sogro Maximiniano e seu filho Flavio Crispo decidiu estrategicamente se batizar no final da vida, crendo que aquele batismo em si mesmo seria suficiente para limpá-lo de todos os crimes cometidos durante a vida, mesmo sem se arrepender deles.
3.7 muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham a seu batismo. Aqueles fariseus e saduceus vinham ao batismo de João, mas não demonstravam estarem dispostos a mudar de vida. Eles não demonstravam frutos que mostrassem arrependimento (v.8), mas mesmo assim se orgulhavam ostentando o título de “filhos de Abraão” (v.9). Nota-se aqui o contraste entre aqueles que vinham ser batizados confessando seus pecados, se reconhecendo como pecadores e dispostos a mudarem de vida (v.6), com aqueles que vinham com o coração duro, sem frutos e pensando já serem regenerados.
3.9 destas pedras. João Batista estava refutando a ideia oriunda da tradição judaica de que a descendência de Abraão era uma descendência natural, transmitindo a doutrina da descendência espiritual de Abraão, que seria ressaltada muitas vezes por Jesus (Jo.8:39) e por Paulo (Gl.3:9). Ser “filho de Abraão” é fazer as mesmas obras que Abraão fez (Jo.8:39) e viver pela fé em Cristo (Gl.3:6-9), e não meramente ser um israelita.
3.11 ele vos batizará com o Espírito Santo. João diferencia o batismo nas águas do batismo com o Espírito. A primeira ocorrência do batismo com o Espírito Santo foi em Atos 2:2-4, cumprindo a palavra de Jesus, que antes da sua ascensão disse que o Espírito Santo desceria sobre eles (At.1:8). Embora os discípulos já tivessem a presença do Espírito Santo desde quando Cristo soprou sobre eles (Jo.20:22), eles ainda não erambatizados com o Espírito Santo (At.1:8; 2:4). Algo semelhante ocorreu em Atos 19:2-6, quando aqueles cristãos já haviam recebido o batismo nas águas, mas ainda não tinham sido batizados com o Espírito Santo (At.19:2-3). Quando eles foram batizados com o Espírito, passaram a falar em línguas e a profetizar (At.19:6), pois os dons evidenciam o batismo com o Espírito Santo na vida de um convertido.
3.12 fogo que nunca se apaga. V. nota em Jd.7.
3.13 para ser por ele batizado. Jesus só foi batizado quando já era adulto.
3.16 subiu logo da água. O fato de Jesus ter “subido” da água indica que ele havia imergido nela. No catolicismo romano e em algumas igrejas protestantes, o batismo é feito meramente aspergindo água na cabeça do batizado. Está longe de ser o tipo de batismo que Jesus recebeu.
3.16 viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba. A materialização do Espírito Santo em forma de pomba nesta ocasião indica que o Espírito de Deus não é uma força impessoal, pois algo impessoal (como a sabedoria) não pode se personificar em algo, em sentido literal.
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