15 de julho de 2014

Comentários de Mateus 15

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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1. Então se chegaram a Jesus [alguns] escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo:
2. Por que teus discípulos violam a tradição dos anciãos? Pois não lavam suas as mãos, quando comem pão.
3. Porém ele respondendo, disse-lhes: 
Porque vós violais também o mandamento de Deus por vossa tradição?
4. Porque Deus mandou, dizendo: 
Honra a teu pai, e a [tua] mãe; e, quem disser mal ao pai, ou à mãe, morra de morte.
5. Mas vós dizeis: 
Qualquer um que disser ao pai ou à mãe: 
Oferta [é] tudo o que podes ter proveito de mim; 
E [assim] ele não [precisa mais] honrar a seu pai ou a sua mãe.
6. E [portanto] invalidastes o mandamento de Deus por vossa tradição.
7. Hipócritas, Isaías bem profetizou sobre vós, dizendo:
8. Este povo com sua boca se achega a mim, e com os lábios me honra; mas seu coração está longe de mim.
9. Mas me honram em vão, ensinando como doutrina mandamentos humanos.
10. E chamando a multidão para si, disse-lhes: 
Ouvi e entendei.
11. Não [é] o que entra na boca que contamina o ser humano; mas sim o que sai da boca, isso contamina o ser humano.
12. Então chegando-se seus discípulos a ele, disseram-lhe: 
Sabes que os fariseus, quando ouviram esta palavra, se escandalizaram?
13. Mas ele, respondendo, disse: 
Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada pela raiz.
14. Deixai-os, são guias cegos de cegos; e se o cego guiar ao cego, ambos cairão na cova.
15. E Pedro respondendo, disse-lhe: 
Explica-nos esta parábola.
16. Porém Jesus disse: 
Até vós ainda estais sem entendimento?
17. Não entendeis ainda, que tudo o que entra na boca, vai ao ventre, e é lançado na privada?
18. Mas o que sai da boca procede do coração; e isto contamina o ser humano;
19. Porque do coração procedem maus pensamentos, mortes, adultérios, pecados sexuais, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.
20. Estas coisas são as que contaminam o ser humano; mas comer sem lavar as mãos não contamina o ser humano.
21. E Jesus, tendo partido dali, foi para as regiões de Tiro e de Sídon.
22. E eis que uma mulher Cananeia, que tinha saído daqueles limites, clamou-lhe, dizendo: 
Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim; minha filha está miseravelmente endemoninhada.
23. Mas ele não lhe respondeu palavra. E chegando-se seus discípulos a ele, rogaram-lhe, dizendo: Manda-a embora, porque ela grita atrás de nós.
24. E ele, respondendo, disse:
Eu fui enviado somente para as ovelhas perdidas da casa de Israel.
25. Então veio ela, e o adorou, dizendo: 
Senhor, ajuda-me.
26. Mas ele, respondendo, disse: 
Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.
27. E ela disse: 
Sim, Senhor; porém também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus senhores.
28. Então Jesus respondeu, e disse-lhe: 
Ó mulher! grande [é] tua fé; seja feito a ti como queres. 
E sua filha sarou desde aquela mesma hora.
29. E Jesus, tendo partido dali, veio ao mar da Galileia; e subindo a um monte, sentou-se ali.
30. E vieram a ele muitas multidões, que tinham consigo mancos, cegos, mudos, aleijados, e outros muitos; e os lançaram aos pés de Jesus, e ele os curou,
31. De tal maneira, que as multidões se maravilhavam, vendo os mudos falarem, os aleijados ficarem íntegros, os mancos andarem, e os cegos verem; e glorificaram ao Deus de Israel.
32. E Jesus, chamando a si seus discípulos, disse: 
Estou comovido com a multidão, porque já [há] três dias [que] estão comigo, e não têm o que comer; e não quero deixá-los ir em jejum, para que não desmaiem no caminho.
33. E seus discípulos lhe disseram: 
Donde [conseguiremos] tantos pães no deserto, para fartar tão grande multidão?
34. E Jesus lhes disse: 
Quantos pães tendes? 
E eles disseram:
Sete, e uns poucos peixinhos.
35. E mandou as multidões se sentarem pelo chão.
36. E tomando os sete pães e os peixes, e dando graças, partiu-os, e deu-os a seus discípulos, e os discípulos à multidão.
37. E todos comeram, e se fartaram; e levantaram do que sobrou dos pedaços, sete cestos cheios.
38. E os que tinham comido eram quatro mil homens, sem contar as mulheres e as crianças.
39. E ele, tendo despedido as multidões, entrou em um barco, e veio aos limites de Magdala.




15.2 violam a tradição dos anciãos. Os fariseus haviam acrescentado uma série de tradições que diziam ter sido preservadas oralmente desde Moisés até aqueles dias, incluindo a prática obrigatória de lavar as mãos ao comer pão. Jesus, contudo, não seguia nenhuma tradição extra-bíblica, mas somente a Escritura. Ele nunca reconheceu nem legitimou qualquer tradição oral judaica, que nada mais era senão um acréscimo ilegítimo às Escrituras, que era naquele momento a única regra de fé dos judeus, ainda com apenas o AT, que mais tarde viria a ter também a companhia do NT. Algo muito semelhante ocorreu séculos mais tarde, quando os reformadores protestantes se depararam com uma série de dogmas e doutrinas do catolicismo romano que se baseavam puramente na tradição papista, que diziam ter sido preservada oralmente desde os apóstolos, mas sem nenhuma base ou fundamento bíblico. Assim como Jesus fez com a tradição extra-bíblica dos judeus, eles repreenderam a tradição não-bíblica dos romanos e reergueram o princípio cristão e ortodoxo da Sola Scriptura – a Bíblia como a única regra de fé do cristão.

15.9 me honram em vão. A tradição oral extra-bíblica não havia apenas invalidado o mandamento de Deus presente na Sagrada Escritura (v.6), mas também colocado o coração daquelas pessoas distante de Deus e tornado inútil a adoração delas (vs.8-9).

15.24 eu fui enviado somente para as ovelhas perdidas da casa de Israel. O ministério terreno de Jesus era voltado primeiramente aos judeus, e somente depois da rejeição dos judeus é que a Palavra seria espalhada por toda a terra, como testemunho a todas as nações (Jo.1:11; Mc.16:15; At.1:8).

15.25 o adorou. V. nota em Mt.2:11.

15.27 não é bom tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Os “filhos” eram os judeus, e naquele momento os “cachorrinhos” eram os gentios, porque o propósito inicial de Jesus era para com os judeus. Mesmo assim, isso não impedia que os gentios que tivessem fé recebessem alguma coisa – as “migalhas” – antes da barreira entre judeus e gentios ser destruída com a morte de Cristo e os dois serem feitos “um só povo” (Jo.11:52; Ef.2:14-18), onde os gentios que creem em Jesus desfrutam da condição de “filhos” assim como os judeus que nele creem.

15.32 estou comovido com a multidão. Este versículo confronta a tese da expiação limitada (calvinismo), segunda a qual Jesus não morreu por todos, mas apenas por alguns, e estes por quem ele não morreu não possuem qualquer oportunidade de salvação. Para eles, Jesus tinha suficiente compaixão de todos daquela multidão para oferecer alimento físico a todos eles, mas não tinha suficiente compaixão de todos daquela multidão para oferecer salvação espiritual a todos eles. Jesus não queria ver aquela multidão passando fome, mas queria vê-los no inferno, para onde já tinha predestinado muitos deles. Sua compaixão por todos da multidão era limitado ao aspecto físico e alimentar, pois, quando chegava ao mais importante de tudo (a salvação eterna), ele decidia morrer só por alguns poucos, e ignorar muitos daquela tão grande multidão. Ele teria compaixão para com o menos importante, mas não teria compaixão para com o mais importante. Obviamente, esta tese confronta o sentido bíblico, que claramente aponta para a expiação universal e ilimitada (Jo.3:16; 1Tm.2:5-6; Hb.2:9; 2Pe.2:1; 1Co.7:23; 1Tm.4:10; 2Pe.3:9; 1Tm.2:4; 1Co.8:11; 2Co.5:14-15; 1Jo.2:2; Rm.5:18; Rm.11:32; Mt.18:14; Jo.5:34; Jo.11:42), assim como o amor, graça e misericórdia de Deus expressos em toda a Bíblia.

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