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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1. E dizia também a seus discípulos:
Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este lhe foi acusado de fazer perder seus bens.
Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este lhe foi acusado de fazer perder seus bens.
2. E ele, chamando-o, disse-lhe:
Como ouço isto sobre ti? Presta contas de teu trabalho, porque não poderás mais ser [meu] mordomo.
3. E disse o mordomo para si mesmo:
O que farei, agora que meu senhor está me tirando o trabalho de mordomo? Cavar eu não posso; mendigar eu tenho vergonha.
4. Eu sei o que farei, para que, quando eu for expulso do meu trabalho de mordomo, me recebam em suas casas.
5. E chamando a si a cada um dos devedores de seu senhor, disse ao primeiro:
Quanto deves a meu senhor?
6. E ele disse:
Cem medidas de azeite.
E disse-lhe:
Pega a tua conta, senta, e escreve logo cinquenta.
7. Depois disse a outro:
E tu, quanto deves?
E ele disse:
Cem volumes de trigo.
E disse-lhe:
Toma tua conta, e escreve oitenta.
8. E aquele senhor elogiou o injusto mordomo, por ter feito prudentemente; porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz com esta geração.
9. E eu vos digo: fazei amigos para vós com as riquezas da injustiça, para que quando vos faltar, vos recebam nos tabernáculos eternos.
10. Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; e quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.
11. Pois se nas riquezas da injustiça não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras [riquezas]?
12. E se nas [coisas] dos outros não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?
13. Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque ou irá odiar a um, e a amar ao outro; ou irá se achegar a um, e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
14. E os fariseus também ouviram todas estas coisas, eles que eram avarentos. E zombaram dele.
15. E disse-lhes:
Vós sois os que justificais a vós mesmos diante dos seres humanos; mas Deus conhece vossos corações. Porque o que é excelente para os seres humanos é odiável diante de Deus.
16. A Lei e os profetas [foram] até João; desde então, o Reino de Deus é anunciado, todo homem [tenta entrar] nele pela força.
17. E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um traço de alguma letra da Lei.
18. Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e qualquer que se casa com a deixada pelo marido, [também] adultera.
19. Havia porém um certo homem rico, e vestia-se de púrpura, e de linho finíssimo, e festejava todo dia com luxo.
20. Havia também um certo mendigo, de nome Lázaro, o qual ficava deitado à sua porta cheio de feridas.
21. E desejava se satisfazer com as migalhas que caíam da mesa do rico; porém vinham também os cães, e lambiam suas feridas.
22. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o colo de Abraão. E o rico também morreu, e foi sepultado.
23. E estando no mundo dos mortos em tormentos, ele levantou seus olhos, e viu a Abraão de longe, e a Lázaro em seu colo.
24. E ele, chamando, disse:
Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro que molhe a ponta de seu dedo na água, e refresque a minha língua; porque estou sofrendo neste fogo.
25. Porém Abraão disse:
Filho, lembra-te que em tua vida recebeste teus bens, e Lázaro do mesmo jeito [recebeu] males. E agora este é consolado, e tu [és] atormentado.
26. E, além de tudo isto, um grande abismo está posto entre nós e vós, para os que quisessem passar daqui para vós não possam; nem também os daí passarem para cá.
27. E disse ele:
Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai.
28. Porque tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho; para que também não venham para este lugar de tormento.
29. Disse-lhe Abraão:
Eles têm a Moisés e aos profetas, ouçam-lhes.
30. E ele disse:
Não, pai Abraão; mas se alguém dos mortos fosse até eles, eles se arrependeriam.
31. Porém [Abraão] lhe disse:
Se não ouvem a Moisés e aos profetas, também não se deixariam convencer, ainda que alguém ressuscite dos mortos.
16.8 elogiou o injusto mordomo, por ter feito prudentemente. Não é a desonestidade do mordomo que é elogiada, mas a sua prudência. Ele, mesmo sendo mundano, foi astuto, ao diminuir a quantia da dívida e garantir para si amigos que poderiam ajudá-lo depois da sua demissão. Jesus critica os “filhos da luz” (v.8) que não agem com a mesma esperteza, pois neste mundo de trevas somos enviados como “cordeiros no meio de lobos” (Lc.10:3), e por isso temos que ser “astutos como a serpente” (Mt.10:16). Nós não temos que agir desonestamente como eles fazem, mas devemos agir com esperteza dentro dos limites da ética. Neste sentido, nós não devemos ser como crianças (1Co.3:1; 13:11), que são facilmente convencidas pelos adultos acerca de qualquer coisa que lhes é oferecida como sendo a verdade. Por isso Paulo pede que “não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro” (Ef.4:14). Nós devemos ser puros como as crianças, mas ao mesmo tempo astutos como a serpente (Mt.10:16), bem prevenidos contra as “astutas ciladas do maligno” (Ef.6:11).
16.9 fazei amigos para vós com as riquezas da injustiça. I.e, sejam espertos como o mordomo da parábola foi (v. nota anterior). vos recebam nos tabernáculos eternos. Na ressurreição, todos nós nos receberemos mutuamente na glória (v. nota em 2Co.4:14).
16.10 quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. A máxima que diz que “quem mente também rouba” não passa muito longe disso. A pequena desonestidade é uma semente que pode frutificar e oferecer consequencias maiores. Do ponto de vista moral, aquele que rouba um real do próximo é tão culpado quanto aquele que rouba mil reais, porque em ambos os casos o roubo partiu do desejo maligno e corrupto no coração do homem. Aquele que dá lugar a tais desejos carnais tem a tendência de manter a mesma natureza de desonestidade em coisas maiores. Em contrapartida, aquele que se mantém puro contra os pequenos pecados está se conservando para manter-se fiel nas grandes tentações.
16.13 não podeis servir a Deus e às riquezas. V. nota em Lc.12:34.
16.15 o que é excelente para os seres humanos é odiável diante de Deus. Cristo estava falando das riquezas (v.13), que os fariseus amavam (v.14).
16.16 a Leis e os profetas foram até João. João foi o último profeta do tempo da antiga aliança, e a partir de então estaria inaugurada a nova aliança, aqui chamada de “o Reino de Deus”. todo homem tenta entrar nele pela força. V. nota em Mt.11:12.
16.17 cair um traço de alguma letra da lei. V. nota em Mt.5:17-19 e Mt.5:18.
16.18 Sobre o divórcio, v. nota em Mt.5:32.
16.19-31 A parábola do rico e Lázaro, a exemplo das demais parábolas, não possui meios literais, mas um significado moral implícito na alegoria. Os imortalistas que usam esta parábola como uma evidência de imortalidade da alma mostram desconhecer o próprio significado de parábola, que é “uma narrativa fictícia, onde a natureza e história do reino de Deus são figurativamente retratados” (Strong, 3850). Diversas vezes a Bíblia se utiliza de personificação de personagens inanimados em parábolas, como nas duas ocasiões em que parábolas envolvem árvores conversando umas com as outras (Jz.9:8-15; 2Rs.14:9). Isso obviamente não significa que as árvores realmente falem, mas somente que elas “ganharam vida” na parábola para alegoricamente ilustrar alguma lição moral ou objetivo que o autor teve ao retratá-las. Isso é o mesmo que ocorre aqui, pois inúmeros elementos textuais mostram que esta também é uma parábola, e que, consequentemente, deve ser interpretada como as demais parábolas – não com meios literais, mas com uma lição moral.
Primeiro, é dito que o rico tinha língua (v.24) e que Lázaro tinha dedo (v.24), o que mostra que eles não eram “espíritos” incorpóreos, mas estavam no Hades em forma corporal. Obviamente Jesus não cometeu um descuido e colocou os personagens corporalmente no Hades por engano, mas somente estava fazendo uso de uma alegoria, a exemplo das árvores falantes (Jz.9:8-15; 2Rs.14:9), cujo relato em nada necessita de uma interpretação literal, precisamente por se tratar de uma parábola. Segundo, é nos dito que o rico tinha sede (v.24), que é uma característica do corpo, e não de um espírito fluídico e imaterial (os anjos, por exemplo, não sentem sede e nem precisam de água!). Terceiro, dificilmente o rico e Abraão conseguiriam se comunicar com um “grande abismo” (v.26) entre eles, se o rico estivesse queimando nas chamas de um fogo literal, em meio a gritos de milhões de impenitentes que supostamente ali estariam. Quarto, dificilmente alguém que está literalmente queimando entre as chamas de um fogo verdadeiro consegue manter concentração, conversar naturalmente, visualizar e distinguir pessoas a uma longa distância, ouvir e responder como se nada estivesse acontecendo. Quinto, o pedido do rico seria inútil caso ele estivesse de fato queimando em algum lugar, pois uma gota de água não iria apagar as chamas de fogo que ali estavam, e de nada adiantaria se aquelas chamas fossem eternas, inapagáveis. Sexto, de nada adiantaria molhar a língua (v.24), se o resto do corpo inteiro está queimando. Alguém que está tendo seu corpo inteiro queimando irá se preocupar com o corpo que está queimando, e não com a língua. Sétimo, se o relato é literal, então devemos crer que é (ou era) possível que os salvos no Céu conversem e mantenham contato natural com os ímpios que estão queimando no inferno. Experimente pensar na ideia de chegar ao Céu e dali ver seus parentes não-convertidos queimando horrivelmente do outro lado, e pior, podendo conversar com eles assim como faziam na terra!
No fundo, os próprios imortalistas não levam a sério seu próprio argumento, pois nem eles mesmos consideram reais todos os elementos descritos na parábola. Assim como Calvino fez rejeitando a depravação parcial baseada no relato do homem “meio morto” de Lc.10:30 (v. nota) por se tratar dos meios de uma parábola que não deve ser interpretada literalmente, nós também concluímos que uma interpretação literal dos meios da parábola de Lc.16:19-31 violenta completamente o bom senso e a boa exegese bíblica, que nuncase baseou em meios de parábolas para fundamentar doutrina nenhuma. A finalidade (lição moral) da parábola nunca foi ensinar um estado intermediário, mas mostrar que a incredulidade dos fariseus era tanta que nem mesmo se um morto ressuscitasse (como Jesus já havia feito com Lázaro) eles iriam crer em Cristo (v.31).
No fundo, os próprios imortalistas não levam a sério seu próprio argumento, pois nem eles mesmos consideram reais todos os elementos descritos na parábola. Assim como Calvino fez rejeitando a depravação parcial baseada no relato do homem “meio morto” de Lc.10:30 (v. nota) por se tratar dos meios de uma parábola que não deve ser interpretada literalmente, nós também concluímos que uma interpretação literal dos meios da parábola de Lc.16:19-31 violenta completamente o bom senso e a boa exegese bíblica, que nuncase baseou em meios de parábolas para fundamentar doutrina nenhuma. A finalidade (lição moral) da parábola nunca foi ensinar um estado intermediário, mas mostrar que a incredulidade dos fariseus era tanta que nem mesmo se um morto ressuscitasse (como Jesus já havia feito com Lázaro) eles iriam crer em Cristo (v.31).
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